Título: Médias empresas investem como as grandes no social
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2006, Economia & Negócios, p. B16

Ao contrário do que se pensa, as empresas de médio porte investem proporcionalmente o mesmo que as grandes empresas em suas políticas de responsabilidade social, e a maturidade das ações depende mais do tempo de atuação social do que do volume investido. Estas são algumas conclusões de uma pesquisa realizada com 60 empresas, feita pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (Ceats) da Faculdade de Economia e Administração da USP. ¿O porte influencia o grau de formalização das ações, mas não influencia o valor do investimento social privado. Na prática, as médias investem tanto quanto as grandes, de modo proporcional ao faturamento¿, explica a professora do Ceats Maria Cristina Fedato, que conduziu a pesquisa.

Ela ouviu empresas de diferentes portes ¿ 35,7% com faturamento bruto acima de R$ 2 bilhões; 28,6% de R$ 500 milhões a R$ 2 bilhões e 26,8% de R$ 50 milhões a R$ 500 milhões. Desse universo, apenas 19,2 % investem acima de 1% do faturamento em programas sociais. A maioria, 34,6%, direciona para esse foco até 0,1% do faturamento.

¿Eu diria que quem atua há mais tempo investe mais e tem ações mais estruturadas¿, diz a professora. Isso acontece porque, em muitos casos, a empresa inicia sua atuação social com ações pontuais ¿ como doações e apoio a entidades filantrópicas ¿ mas, por pressão do próprio mercado, percebe a importância estratégica de estruturar a atuação.

A maior parte das empresas (42,4%) investe na área há menos de cinco anos, o que sugere uma incorporação recente das ações sociais no dia-a-dia das empresas.

A Medley, empresa familiar do ramo farmacêutico que recentemente se tornou líder nacional na produção de medicamentos genéricos, com faturamento de R$ 397 milhões em 2004, é um exemplo de empresa de médio porte que está incorporando a responsabilidade corporativa no dia-a-dia nos negócios. A empresa começou sua atuação com políticas de valorização dos funcionários, que incluíam incentivos para a ascensão profissional das mulheres, entre outros.

No início do ano passado, a Medley decidiu desvincular a responsabilidade social da área de Recursos Humanos e criou um departamento específico para gerir o assunto. ¿Os investimentos sociais vêm desde 1999, mas eram ações pulverizadas, filantrópicas. Agora estamos solidificando a cultura de responsabilidade corporativa dentro da empresa¿, explica Fernanda Negrão, diretora da área na Medley.

No ano passado, o investimento nesse campo foi de R$ 1,8 milhão. Fernanda credita o crescimento da Medley ¿ a empresa conquistou 23 posições no mercado farmacêutico nos últimos três anos ¿ à política consistente do RH, ao bom relacionamento com os fornecedores e à atuação social junto à comunidade. Estar próximo à comunidade, aliás, parece ser uma verdadeira obsessão por parte das empresas. A pesquisa do Ceats mostrou que 88,1% das empresas direcionam seus investimentos sociais para os arredores de suas unidades. ¿Acaba sendo uma postura relativa por parte da empresa, de atender a quem bate na porta. Nem sempre as maiores demandas sociais estão onde a empresa está instalada¿, ressalta a professora Cristina, do Ceats.

OPORTUNISMO

O estudo mostrou ainda que a maioria das empresas brasileiras ainda tem receio de parecerem oportunistas ao vincular sua atuação social à natureza de seus negócios. Trinta e cinco por cento das empresas responderam que nunca investem no social pensando nas vantagens competitivas que poderiam obter. Ao mesmo tempo, 65% concordam que o investimento social fortalece a marca.

Esta visão, no entanto, está mudando, e há uma motivação das empresas que ainda não criaram políticas de responsabilidade social a começar de modo estratégico. Um exemplo é o setor de bens de capital brasileiro, que iniciou um amplo mapeamento para avaliar como as empresas estão tratando a responsabilidade corporativa. O trabalho ,uma parceria entre o próprio Ceats e a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) vai envolver um universo de 1,4 mil empresas, muitas delas pequenas e médias.

¿Queremos mudar a visão que muitas empresas têm de que a responsabilidade social é um apêndice. Queremos que elas incorporem o conceito à gestão, e comecem dentro de casa¿, explica Flavia Aubert, diretora de responsabilidade social da Abimaq.

Com base no mapeamento prévio que está sendo realizado junto às empresas e que deve ficar pronto em junho deste ano, serão definidas linhas gerais para a atuação social d o setor.