Título: Com zapatistas, diálogo de armas na mão
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2006, Nacional, p. A11

Além de apartidário e refratário a governos, o Fórum Social Mundial sempre rejeitou a presença oficial de representantes de movimentos armados em seus encontros. Este ano será aberta uma exceção para o Exército Zapatista de Libertação Nacional, do México. A mudança deve-se à decisão dos zapatistas de participarem do debate eleitoral que irá resultar na eleição do novo presidente mexicano. Representantes do Exército Zapatista estão percorrendo o país e organizando debates sobre a realidade nacional, numa ação que pode ser o primeiro passo para deixar as armas e se transformar num movimento social e político. De forma indireta, os zapatistas já tinham participado de edições anteriores do fórum, quando simpatizantes do movimento divulgavam suas posições. Esta será a primeira vez, porém, em que enviarão seus próprios representantes.

Paralelamente ao fórum deverão ser realizadas passeatas contra a Área de Livre Comércio na América (Alca) e contra a presença de tropas estrangeiras no Haiti. A Via Campesina e o Movimento dos Sem-Terra (MST) devem organizar debates e manifestações de protesto contra o aumento da presença de multinacionais na agricultura e contra o uso de transgênicos.

Na quinta edição de caráter mundial do fórum, realizada no ano passado, em Caracas, uma pesquisa realizada pelo Ibase verificou que a maioria dos participantes não faz parte de partidos. Não passou de 23% o total de filiados. Entre as pessoas mais jovens, o desinteresse pelos partidos é maior que entre os mais velhos.

De certa maneira, o resultado da pesquisa mostrou o acerto da orientação do fórum, que defende ações políticas da sociedade civil além da fronteira dos partidos. Por outro lado, esfriou os ânimos de grupos mais à esquerda, que defendem maior partidarização do evento.