Título: Peças avançam no xadrez eleitoral
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2006, Nacional, p. A6

Gesto de Alckmin, lançando seu nome, pressiona outros partidos a se movimentarem no tabuleiro nacional

A decisão de Geraldo Alckmin (PSDB) de anunciar sua candidatura à Presidência antecipou a guerra pela sucessão de Lula. Nem bem o ano começou, preocupados com o gesto do governador de São Paulo, dirigentes dos principais partidos já começam a mover as primeiras peças do xadrez eleitoral. O próprio PT admite que não poderá deixar para abril - quando promove o seu Encontro Nacional - a discussão sobre a política de alianças para a campanha pela reeleição de Lula. "A campanha já começou. O PSDB deu a largada, e as pessoas nas ruas sabem que o Alckmin é candidato. O PT agora precisa ser mais ofensivo, sair na construção de suas alianças", reconhece o secretário-adjunto de Organização petista, Francisco Campos.

Embora saliente que o partido ainda não recebeu de Lula um sinal de que vai disputar a reeleição, Campos acredita que o PT precisa ampliar sua política de alianças em direção ao centro. Sugere, por exemplo, que o PMDB seja chamado oficialmente, e logo, para uma conversa sobre 2006. "Tem de ser uma conversa de presidente para presidente", diz, referindo-se a Ricardo Berzoini (PT) e a Michel Temer (PMDB). Por enquanto, o PT tem como certo o apoio do PC do B e do PSB, do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, um dos nomes cotados para vice de Lula.

Já o presidente do PT não vê necessidade de antecipação. Para Berzoini, é natural que os partidos de oposição queiram acelerar a disputa. Além do mais, ressalta, o PSDB tem de escolher entre Alckmin e o prefeito de São Paulo, José Serra. "Essa dança (de nomes, em debate nos partidos) deve continuar até o carnaval. Quando o outono chegar - em março - virão as folhas e com elas as definições", destaca Berzoini.

No PT não há dilema. Ainda que o presidente Lula não tenha oficializado a candidatura, não existe no partido quem trabalhe com outro cenário que não a luta por sua reeleição.

Berzoini admite não haver outra perspectiva no momento, mas afirma que o partido aguarda o posicionamento do presidente, em março. Outro dirigente petista é mais direto: "Não há razão para o Lula sair amanhã e falar que é candidato. Ele está no cargo. Quer mais campanha do que sair por aí anunciando operação tapa-buraco e percorrendo o País?"

Na avaliação de alguns políticos, o problema do PT não é Lula se apresentar ou não como candidato, mas a demora do partido em elaborar a estrutura da campanha, definir seu coordenador, a estratégia.

"O tempo de hoje é tucano. O tempo dos outros é junho (prazo para que os partidos realizem suas convenções)", comenta o secretário-geral do PSDB, Eduardo Paes (RJ), ao analisar o cenário eleitoral que se desenha no início de 2006.

Sobre a definição entre Serra ou Alckmin, que destaca como dois nomes de peso, Paes afirma que o martelo só deverá ser batido em 60 dias.

Aliado histórico do PSDB, o PFL tem o prefeito do Rio, César Maia, como pré-candidato. Nos bastidores, porém, a aliança com o PSDB é dada como certa - mesmo que Alckmin seja escolhido e Maia torça o nariz.

Com vices no governo e na Prefeitura de São Paulo - Claudio Lembo e Gilberto Kassab, respectivamente -, o PFL prefere Serra a Alckmin. Primeiro, porque avalia que Alckmin demorou muito para se colocar como candidato; segundo, porque com Serra o PFL fica com o comando da maior cidade do País por quase três anos. A outra alternativa seria administrar o Estado por nove meses.

Sempre cortejado por todos, o PMDB fala em candidato próprio. Já o PL, com ou sem a vaga de vice, apoiará o PT novamente.

Em meio ao burburinho pré-eleitoral, apesar da movimentação das peças, a hora do xeque-mate ainda está muito longe. Até lá, muitos bispos, cavalos e torres vão ter de se movimentar.