Título: Comissão quebra sigilo de ex-tesoureiro de Lula
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2006, Nacional, p. A4

O presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, ex-tesoureiro de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teve ontem o sigilo bancário, fiscal e telefônico quebrado pela CPI dos Bingos. A iniciativa, aprovada por 11 votos a 2, ocorre um dia depois do depoimento do ex-secretário de Finanças das prefeituras de Campinas e de São José dos Campos, o economista Paulo de Tarso Venceslau. Ele fez duras acusações a Okamotto, chamando-o, entre outras coisas de ¿bate-pau¿ e ¿pau-mandado que executa qualquer tarefa, sem levar em conta se é lícito ou não¿. Segundo Paulo de Tarso, o então tesoureiro das campanhas de Lula costumava pedir nas prefeituras administradas pelo PT a lista de fornecedores que tinham dinheiro para receber, dando a entender ser esta uma prática para arrecadar recursos para o partido. Okamotto não quis se manifestar sobre as acusações.

As contas do presidente do Sebrae foram abertas sem maiores dificuldades, ao contrário do que ocorreu em dezembro, quando o governo conseguiu levar seus filiados à comissão para obstruir a votação. Agora, somente os senadores Tião Viana (PT-AC) e o suplente que ocupa a vaga do ministro das Comunicações, Wellington Salgado (PMDB-MG), tentaram evitar a quebra de sigilo. Governistas até então fiéis, como o senador Luiz Otávio (PMDB-PA), e os que mantêm uma posição dúbia, como Eduardo Suplicy (PT-SP), apoiaram a abertura das contas.

Okamotto depôs na CPI em novembro, mas não soube explicar por que teria pago do próprio bolso os R$ 29,43 mil de um empréstimo supostamente feito pelo PT a Lula. O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) disse que vai aguardar o envio dos dados das contas do presidente do Sebrae para então pedir que ele passe por acareação com Paulo de Tarso.

Também na sessão de ontem, a CPI dos Bingos convocou para depor, pela segunda vez, o advogado e compadre do presidente da República, Roberto Teixeira, igualmente acusado por Paulo de Tarso de atuar no esquema de abastecimento de caixa 2 do PT por intermédio da Consultoria para Empresas e Municípios (CPEM), contratada sem licitação por prefeituras petistas. Falta agora marcar a data do depoimento.

ENTREVISTA

O caso CPEM ganhou notoriedade a partir de uma entrevista publicada pelo Jornal da Tarde em 26 de maio de 1997. Paulo de Tarso declarou ao jornalista Luiz Maklouf Carvalho que Teixeira usava o nome de Lula, com seu conhecimento, para apresentar a CPEM às prefeituras e facilitar contratações.

O economista acabou expulso do PT em março de 1998. Suas denúncias foram investigadas por uma comissão de sindicância interna, que recomendou abertura de processo disciplinar contra ele e Teixeira. O compadre de Lula foi absolvido pela direção do partido. Participaram da sindicância o hoje deputado José Eduardo Martins Cardozo, o advogado Hélio Bicudo, que abandonou recentemente o PT, e o economista Paul Singer.