Título: Relator cita 34 e pede punição por quadrilha
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2006, Nacional, p. A4

No relatório preliminar que apresentou ontem à CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) afirma que houve pagamento de propina na renovação do contrato da multinacional Gtech com a Caixa Econômica Federal. Garibaldi pede ao Ministério Público o indiciamento de 3 empresas e 34 pessoas. Estão na lista o presidente da Caixa, Jorge Mattoso, o ex-subsecretário de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz, o secretário particular do ministro Antonio Palocci, Ademirson Ariosvaldo da Silva, e dois ex-assessores na prefeitura de Ribeirão Preto ¿ Rogério Buratti e Vladimir Poleto. De acordo com o relatório, a renovação do contrato da Gtech para operar o sistema de loterias da Caixa, ¿a rigor, seria juridicamente nula em sua origem e sofreu, ao longo do tempo, freqüentes violações decorrentes da falta de licitação¿. Como recebeu pedido de vista coletivo, o texto irá a votação na CPI na próxima quarta-feira. O relator sugere que os envolvidos sejam punidos com base nas penas previstas para os crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva, crime contra o procedimento licitatório e improbidade administrativa. Contra Poleto, ele aponta ainda os crimes de falsidade ideológica e tráfico de influência. Pede também que Buratti seja punido por lavagem de dinheiro e crime contra a ordem tributária.

Além de Mattoso, dois ex-presidentes da Caixa estão na lista de pedidos de indiciamento: Emílio Carazzai e Sérgio Cutolo, ambos por prevaricação, crime contra o processo licitatório e improbidade administrativa. Os dois presidiram a instituição ainda durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Garibaldi pede também que sejam punidas as empresas MM Consultoria Ltda. e S. Santos Assessoria Ltda., pertencentes ao advogado Walter Santos Neto. Inexpressivo como profissional e dono de um até então desconhecido escritório, Santos Neto é suspeito de intermediar o dinheiro da extorsão. Segundo o relator, o advogado recebeu da Gtech R$ 5 milhões em seis meses por uma única ação no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O próprio Walter ou seus empregados sacaram em espécie R$ 2.397.573,88. ¿Alguns desses saques foram feitos com carro-forte e entregues a ele em sua casa ou no escritório¿, afirma o relator.

ROUPAS

Segundo Garibaldi, a CPI não teve como rastrear esse dinheiro e o advogado mentiu ao afirmar em depoimento que gastou o montante em viagens, roupas de grife, vinho e outros luxos.

Para o relator, todos os indícios reforçam a tese de que a propina da Gtech era disputada por dois grupos do então recém-instalado governo petista, ligados ao ministro Antonio Palocci e ao então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Segundo ele, isso ficaria claro na ¿insistente¿ troca de telefonemas dos três ligados a Palocci ¿ Ademirson, Buratti e Poleto ¿ com dirigentes da Gtech e da Caixa no período da renovação do contrato. Outro ponto que reforça a idéia é a denúncia de dirigentes da empresa de que teriam sido pressionados por Buratti e Waldomiro a contratar um intermediário para negociar a renovação do contrato.