Título: Para Uruguai, Mercosul está 'machucado'
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2006, Economia & Negócios, p. A5

Ministro diz que há desequilíbrios entre os sócios 'grandes' e 'pequenos' do bloco e cobra mudanças

"O tecido do Mercosul está machucado", disse ontem o ministro do Turismo do Uruguai, Héctor Lascano, defendendo que será preciso assumir "algumas mudanças" para restabelecer o bloco do Cone Sul. Com essa declaração, o ministro aumentou ainda mais a polêmica que envolve o governo do presidente Tabaré Vázquez e o bloco do Cone Sul. Há uma semana e meia o governo está dividido, com opiniões divergentes dentro do gabinete de ministros sobre eventuais negociações para o fechamento de um acordo de livre comércio com Estados Unidos. A maior parte dos integrantes do gabinete, composto por representantes da esquerda, criticou o funcionamento do Mercosul, acusando o Brasil e a Argentina - os "sócios grandes" - de desprezarem os "pequenos", isto é, Uruguai e Paraguai.

Lascano aumentou mais ainda as tensões com os outros sócios do bloco, especialmente Brasil e Argentina, ao dizer que "deveria existir um melhor equilíbrio (no Mercosul) com os países pequenos. Temos a sensação de que os desequilíbrios estão se acentuando, e isso não ajuda no processo de integração".

O ministro da Economia, Danilo Astori, um progressista 'light', iniciou a polêmica ao declarar que o Uruguai negociava um acordo de livre comércio com os EUA. O chanceler Reynaldo Gargano desmentiu o acordo, só para ser desmentido pelo ministro da Indústria, Jorge Lepra, que declarou que o Uruguai fecharia o acordo. Gargano negou de novo as negociações.

Mas ontem, inesperadamente, o chanceler disse que pode haver acordo se os EUA aceitarem a entrada livre de todos os produtos made in Uruguai, em alusão aos produtos agropecuários, o prato forte da economia uruguaia. "Se os EUA eliminarem a lista de 300 produtos sensíveis, como carne e lã, como não serei partidário de um tratado de livre comércio que nos permita entrar com tarifa zero em um mercado tão importante?", disse ele. Em entrevista ao programa de TV Tempo Presente, o disse ter certeza de que os EUA "dirão que o livre comércio é para todos os produtos".

PARAGUAI

Em Assunção, capital do outro sócio "pequeno", o Paraguai, ressurgiram ontem rumores de que o governo estaria analisando há meses um acordo de livre comércio com os EUA. O jornal ABC Color, o principal do país, publicou um editorial em que afirma que o plano do governo Vázquez de assinar um acordo com os EUA "é uma atitude realista". O editorial conclama governo e parlamentares a seguirem o exemplo de "seriedade e independência" dos uruguaios, e afirma que o Paraguai não aumentar as exportações se ficar "aprisionado" no Mercosul, "subordinado aos interesses protecionistas dos grandes vizinhos" - isto é, Brasil e Argentina.

Segundo o jornal, enquanto os uruguaios mostram que compreendem a situação, a classe política paraguaia, "envolvida em brigas de cortiço barato, não tem inteligência para isso".