Título: Boas-vindas ao FMI e acenos até para a Alca
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2006, Economia & Negócios, p. B4

Presidente eleito da Bolívia recusa alinhamento automático com o eixo Venezuela-Cuba

Ao falar à imprensa, ontem, em Brasília, o presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, deu claros sinais de não saber ao certo por onde vai caminhar seu governo. Sob o risco de enfrentar um severo fogo amigo logo no início da gestão, ele reproduziu a máxima neoliberal condenada pelas esquerdas de que, "ao resolver os problemas econômicos, os sociais também serão resolvidos". Morales afirmou ainda que o Fundo Monetário Internacional (FMI) será "bem-vindo" ao seu país e que estará aberto ao diálogo com qualquer Nação.

O presidente Lula é presença confirmada na posse de Morales, dia 22, ao lado de Hugo Chávez, da Venezuela. O cubano Fidel Castro nunca confirma por antecipação as suas viagens, mas deverá estar presente. Uma das ausências será Rodrigo de Rato, diretor-gerente do FMI, que foi convidado. Em seu lugar, irá o economista brasileiro Antonio Furtado, chefe da divisão que trata da Bolívia.

Morales deixou claro que não conhece exatamente a situação de seu país com o Fundo, mas antecipou que não vai engolir seus planos econômicos. Esse é um assunto que Morales terá de tratar em março, quando será feita a última revisão do atual acordo da Bolívia com Fundo. A condição do país é favorável. Em dezembro, a dívida boliviana com o FMI foi quitada pelas grandes economias sócias da instituição.

Morales se mostrou arredio ao alinhamento automático ao pretendido eixo Venezuela-Cuba. Para desgosto do Brasil, alertou que analisará os benefícios do ingresso da Bolívia no Mercosul, como membro pleno, assim como a adesão à Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e outros tratados.

O critério de seu governo será o benefício para pequenas empresas, cooperativas e firmas comunitárias. "Política de livre importação não é solução para as maiorias", antecipou.

De forma um tanto cálida, Morales chamou Lula de "companheiro, vizinho, irmão e, depois da posse, colega" e demonstrou certa fascinação pelo líder brasileiro. Ele relatou que pediu a Lula que telefone para La Paz toda vez que ele (Morales) cometa algum erro, para dizer como resolvê-lo. Também chegou a solicitar estreita cooperação entre as equipes de governo - o que foi aceito plenamente, segundo o assessor especial da presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.