Título: Brasil tenta evitar veto à venda de Supertucanos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2006, Internacional, p. A17

WASHINGTON - O governo do Brasil trabalha discreta e intensamente para convencer a administração Bush a não bloquear a venda de 24 aviões de ataque e treinamento Supertucano para a Venezuela. Os argumentos brasileiros são que o bloqueio contraria interesses comerciais do país, é politicamente contraproducente e, militarmente, faz menos sentido ainda, uma vez que os turboélices da Embraer, embora sejam definidos pelo fabricante como aeronaves de ataque leve, estão sendo negociados na configuração que prioriza seu emprego no treinamento de pilotos. Ainda assim, as chances de sucesso dos esforços do Itamaraty são entre incertas e remotas.

Segundo fontes bem informadas, o assunto dos Supertucanos foi tratado esta semana em alto nível entre Brasília e Washington. A ocasião foi uma gestão americana para conseguir o apoio do Brasil na votação de uma resolução que os EUA articulam neste momento na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para submeter o programa nuclear do Irã ao Conselho de Segurança da ONU. O governo Lula registrou o pedido americano, mas lembrou a Washington seu interesse em ver a venda dos Supertucanos concluída.

Os argumentos do Brasil foram apresentados publicamente pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na quarta-feira, quando ele comentou, em tom diplomático, a denúncia feita pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, sobre a decisão americana de impedir a exportação dos Supertucanos. Respondendo a jornalistas, o chanceler disse haver sim ¿indícios¿ da pressão americana. O chanceler lembrou que o bloqueio da venda dos Supertucanos não apenas prejudicaria interesses comerciais brasileiros como desvalorizaria os esforços de mediação que o país tem procurado fazer entre Washington e Caracas.

Em fevereiro do ano passado, quando a venda dos Supertucanos foi anunciada, o subsecretário de Defesa adjunto para o Hemisfério Ocidental, Rogelio Pardo Maurer, disse ao Estado que não via problema na operação.

Iniciativas como escalada da retórica antiamericana, levaram Washington a endurecer. A base da argumentação é o pacote dos sistemas de bordo, fornecidos pela empresa israelense Elbit. O governo dos EUA sustenta que a tecnologia é americana. Nesse caso, a transferência implica aprovação prévia do Pentágono. Chávez mantém um amplo programa de reequipamento militar. Em 2005 anunciou a compra de 100 mil fuzís russos AK-47 Kalashinikov. O contrato, no valor de US$ 55 milhões, já começou a ser cumprido