Título: Bachelet reúne 100 mil em showmício
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2006, Internacional, p. A16

Já Pi¿era encerrou a campanha para as eleições presidenciais de amanhã em comício assistido por 15 mil

SANTIAGO - Pelo menos 100 mil pessoas compareceram na quinta-feira à noite ao ato de encerramento da campanha eleitoral da candidata socialista à presidência do Chile, Michelle Bachelet, na Avenida Portugal, no centro de Santiago. O candidato da Renovação Nacional (RN), Sebastián Pi¿era, encerrou sua campanha num comício mais modesto, em Valparaíso, para entre 10 mil e 15 mil pessoas. O maior número de assistentes no evento da candidata apoiada pelo governo chileno se explica em parte pela escolha da capital como local do último comício e também por causa da apresentação de astros da música chilena e internacional, como os espanhóis Miguel Bosé, Víctor Manuel, Ismael Serrano e Ana Belén.

Já Pi¿era, escolheu Valparaíso para reforçar sua posição nas regiões do interior do país, onde obteve mais votos no primeiro turno em 11 de dezembro. Em seu palanque estava o terceiro colocado da primeira votação, o direitista Joaquín Lavín, da União Democrata Independente (UDI).

Com o apoio dos partidos conservadores, Pi¿era pretende reverter a tendência demonstrada na última pesquisa de intenção de voto, do Instituto Mori, que lhe dá 40% das preferências, 5 pontos porcentuais atrás de Bachelet.

Além dos artistas, o palanque da candidata socialista contava ainda com o ex-primeiro-ministro socialista espanhol Felipe González e os ex-presidentes chilenos Patricio Aylwin e Eduardo Frei. O atual presidente, Ricardo Lagos, era esperado, mas não compareceu. Foi representado pela primeira-dama, Luisa Durán, e sua filha, Francisca Lagos .

Às 20h, o sol inclemente do seco verão de Santiago ainda castigava os partidários da candidatura governista. Os primeiros tinham chegado por volta das 14 horas, para garantir os lugares mais próximos do palanque. "Há mais de 10 anos participo de todos os comícios da Concertação (a coalizão de partidos de centro e esquerda que governa o Chile desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990)", disse a secretária Carolina Vergara. "Acho que vale a pena, pois me sinto parte de um processo que está mudando meu país", acrescentou Carolina, que pediu licença ao patrão e não foi trabalhar para assegurar o lugar junto da primeira de uma série de barreiras metálicas colocadas entre o palanque e o público. A produtora-geral, uma brasileira chamada Simone, era o principal alvo das queixas dos jornalistas credenciados para a cobertura. O local reservado para a imprensa, exposto ao sol, tinha sido cuidadosamente planejado para evitar o acesso às personalidades convidadas para o showmício. "Queridos, vocês não podem circular por aqui", gritava, em espanhol, enquanto convocava os seguranças para reconduzir repórteres à isolada área de imprensa.

Após a apresentação dos artistas, a candidata presidencial - única oradora do ato - aproximou-se do microfone para seu discurso, que durou 15 minutos, saudada pela multidão aos gritos de "ê, ê, Bachelet!" Ex-ministra de Saúde e Defesa do governo Lagos, Bachelet abriu sua fala com uma homenagem a duas personalidades da resistência à ditadura de Pinochet, o cardeal Silva Henríquez e a fundadora do Grupo de Parentes de Presos e Desaparecidos durante o regime militar, Sola Sierra. Depois, fez um apelo aos que não votaram por ela no primeiro turno. "Aos que votaram em outros candidatos, mas sonham com o mesmo país que eu sonho, peço que se juntem a nós nessa tarefa, pois um Chile mais próspero e justo para todos está aí, ao alcance de nossas mãos", discursou.

Protegida por um batalhão de seguranças Bachelet deixou a área do palanque sem falar com a imprensa.

"Aprendemos que, durante uma campanha, um candidato deve falar pouco, na hora certa e só aquilo que for necessário", disse depois, ao Estado, a chefe de comunicações da campanha, Marta Hansen.