Título: Irã ameaça limitar inspeção nuclear
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2006, Internacional, p. A14

País não aceita ser levado ao Conselho de Segurança da ONU por causa de seu programa atômico

TEERÃ - O governo iraniano ameaçou ontem impedir inspeções aleatórias a suas instalações nucleares e outras formas de cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), se os EUA e países europeus submeterem o Irã ao Conselho de Segurança da ONU. A firme advertência, emitida pelo Ministério de Relações Exteriores, veio acompanhada de ofertas de continuar as negociações sobre o programa nuclear do país. O chanceler Manouchehr Mottaki afirmou que o envio do caso ao Conselho de Segurança forçaria o Irã a "encerrar sua cooperação voluntária", com a AIEA - uma referência às inspeções iniciadas em 2002, depois que o Irã admitiu ter omitido dados importantes sobre seu programa nuclear. Já o presidente iraniano, Mahmud Ahamdinejad, declarou ontem que não confia nos negociadores europeus e reiterou que não cederá à pressão ocidental.

O fim das inspeções realizadas pela AIEA seria uma escalada dramática na crise entre o Ocidente e o Irã por causa de sua decisão, tomada terça-feira, de prosseguir com as pesquisas para o enriquecimento de urânio, que pretende utilizar em suas centrais nucleares. Os EUA e a Europa - representados nas negociações pela Grã-Bretanha, França e Alemanha - temem que o Irã vá usar essa tecnologia em armas atômicas, o que o país nega.

Na quinta-feira, Alemanha, França e Grã-Bretanha anunciaram o encerramento das conversações com o governo iraniano e pediram a intervenção do Conselho de Segurança, em resposta à retomada pelo Irã, na terça-feira, das pesquisas nucleares nas instalações de Natanz, no centro do país. Até 2002, o Irã ocultava esse centro da AIEA e só admitiu sua existência depois que os americanos apresentaram fotos de satélites com sua localização.

Falando ontem a jornalistas na Casa Branca, o presidente americano, George W. Bush, endossou a decisão da tróica européia e enfatizou que os EUA vão empenhar-se na aprovação de uma resolução "diplomática" no Conselho de Segurança. Mas ressalvou que nenhuma decisão ainda foi tomada quanto à imposição de sanções ao Irã.

"Não vou prejulgar o que o Conselho de Segurança da ONU deveria fazer, mas reconheço ser lógico que um país que rejeita iniciativas diplomáticas seja encaminhado ao Conselho", declarou Bush, tendo ao lado a chanceler da Alemanha, Angela Merkel (ler mais sobre a visita de Merkel na pág. 18). "Não seremos intimidados por um país como o Irã", disse Merkel.

Segundo as autoridades americanas, representantes dos três países europeus se reunirão em Londres, na segunda-feira, com enviados da Rússia e da China. Apesar do tom irado de europeus e iranianos, diplomatas nos EUA e Europa admitem que terão de seguir devagar com a pressão sobre o Irã. Isto porque tanto a Rússia como a China têm poder de veto no Conselho de Segurança, são fortes aliados do Irã e não se mostram dispostos a tomar duras medidas contra o país. Os governos russo e chinês pediram esta semana ao Irã que interrompa suas pesquisas nucleares, mas não fizeram menção a sanções.

Os russos estão concluindo a construção de um reator nuclear iraniano e podem assinar contratos para outros. Já os chineses mantêm negócios de exploração de petróleo no Irã e compram gás natural do país.