Título: `Críticas do Gullar são muito genéricas, no vácuo¿
Autor: Jotabê Medeiros
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2006, Nacional, p. A12

Para ministro, falta qualificação a muitas das queixas que têm sido feitas contra a atuação do ministério

No Ceará para inaugurar obras de restauro em Icó (370 quilômetros de Fortaleza) e para o ato simbólico de tombamento da casa de Antonio Conselheiro em Quixeramobim (220 quilômetros de Fortaleza), o ministro da Cultura, Gilberto Gil, foi ovacionado ao cantar na praça de Icó para 6 mil pessoas, acompanhado de um sanfoneiro. Em meio a canjas, afagos do povo e cumprimentos de políticos, ele falou ao Estado sobre as críticas que sua gestão tem recebido de estrelas da cultura ¿ entre elas, seu amigo Caetano Veloso. Gil demonstrou satisfação com o desempenho da pasta. ¿Gastamos 99,5%, cerca de R$ 400 milhões do nosso orçamento, superamos nosso índice de 2005. Talvez sejamos o ministério com o maior índice da Esplanada¿. As críticas que estão surgindo contra o Ministério da Cultura vêm de diversas áreas. Do teatro, com o Paulo Autran, da literatura, com o Ferreira Gullar, agora veio o Caetano, o Luiz Carlos Barreto... O Ferreira Gullar não fez crítica como literato. Ele nem mesmo disse assim: a política do livro, da leitura, de bibliotecas... Eu o vi dizendo que tem informações de que os projetos não andam, de que o Ministério da Cultura propôs e apoiou a criação do Conselho de Jornalismo ¿ coisa que nem se deu, não é nem fato. As críticas eram muito genéricas, no vácuo. Uma das queixas que eu poderia ter a um certo conjunto de críticas é a falta de qualificação delas.

Quando seu ministério recebe a pecha de autoritarismo, como reage?

Eu fico pedindo explicações a respeito disso. Onde é que está a centralização? Onde é que se identifica isso? Que ações do ministério podem indicar um desejo que seja de uma ação centralizadora? A gente está tentando redistribuir fluxos de verbas pelo País inteiro, e estamos conseguindo. Aumentamos a presença da lei de incentivo no País inteiro, no Centro-Oeste, no Norte. As políticas do audiovisual estão se espalhando pelas cidades. As políticas de museus estão se estendendo desde Corumbá, do interior de Minas, e também por São Paulo, Rio. O que é que é centralização?

Há de fato uma ênfase maior nos projetos alternativos, como se acusa o MinC?

Nós criamos políticas públicas para atender à formação de platéias, de novos talentos, não necessariamente desatendendo a outros setores. Quem é que atendia tradicionalmente ao grande teatro ou ao grande cinema? Não eram os recursos do Fundo Nacional de Cultura, nunca foram. Eram as estatais, grandes companhias privadas, institutos, bancos. Isso continua existindo. Se você passa a praticar políticas públicas com editais, concursos, com competição saudável entre os postulantes, isso traz equilíbrio.

E a crítica de Caetano Veloso?

Caetano acha que você não pode punir setores que conseguiram uma acumulação significativa na produção cultural do País através de um modelo de acesso direto a recursos. Não pode punir esses setores com uma democratização via editais, via mecanismos de abrangência, tem de fazer as duas coisas ao mesmo tempo, buscar equilíbrio. Mas fico me perguntando: quais os grandes recursos do MinC que estão sendo desviados para essas áreas de atendimento mais universal? As estatais que financiavam o cinema continuam fazendo, só criaram conselhos, comissões julgadores, estão avaliando. [ENTREVIS10]Acho que Caetano acompanha bem. Dá preferência ao setor do audiovisual, do qual está próximo, com o qual teve envolvimento a partir da mulher, Paulinha (Lavigne), que é produtora de cinema. Não vi Caetano se referir à política de museus, do livro, da leitura. Fez elogios à política digital, à política geral de propriedade intelectual. As críticas de Caetano buscam uma qualificação cada vez maior. Não pertence a esse conjunto de críticas desqualificadas.

[/ENTREVIS10]Em nenhum momento o sr. viu endereçamento político nas críticas?

Não me interessa. Não é para isso que estou no ministério. Estou lá para realizar um trabalho. Não é porque se está em ano eleitoral que vão usar críticas ao governo como instrumento de política eleitoral. O presidente Lula não vai permitir que seus ministros façam política, não é justo. Portanto a oposição também não pode querer, para poder justificar sua ação política.

Quando seu assessor Sérgio Sá Leitão respondeu às críticas, ele também não incorreu no erro de politizar essas questões?

Acho que sim, um pouco. Mas não acho que as críticas, mesmo que justas, ao que ele fez justifiquem uma demissão ou coisa desse tipo.