Título: Para deputados, só interessa quem os faça sobreviver
Autor: Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2006, Nacional, p. A8

Quem quer se divertir acompanhando a disputa entre José Serra e Geraldo Alckmin pela cabeça de chapa do PSDB precisa prestar atenção às intenções de voto para o primeiro turno da eleição presidencial. Esses números vão decidir o nome do candidato tucano para enfrentar Lula. Os donos dos maiores cestos de votos que podem cravar o nome de Alckmin ou Serra são os deputados federais, seus amigos e afilhados. Eles têm idéias, alguns até possuem aquilo que no passado se chamava ideologia, mas são acima de tudo seres humanos, ocupados com a sobrevivência.

Os deputados e suas máquinas políticas querem um candidato a presidente de boa musculatura. Embora a eleição não seja vinculada, as duas vitórias de FHC e a campanha de Lula em 2002 ensinam que o candidato presidencial é sempre um grande cabo eleitoral, distribuindo toneladas de votos para quem se encontra nos outros andares da urna eletrônica. Nem Serra nem Alckmin.

Para a maioria do PSDB tanto faz ¿ embora todos tenham suas preferências, as opções políticas e lembranças mesquinhas. Os deputados vão votar no candidato que for melhor para eles. Essa é uma notícia ruim para Alckmin.

O desempenho superior de Serra nas pesquisas tornou-se um dos principais combustíveis, em Brasília, para a conversa de que Lula deveria desistir logo do segundo mandato. O passado mostra, porém, que a Prefeitura de São Paulo é uma vitrine de maldades para seus ocupantes. Ninguém sabe o poder das águas de janeiro, fevereiro e março para enferrujar os números do prefeito.

Ninguém sabe, também, o que vai acontecer quando o boca-a-boca sobre a promessa de Serra de cumprir o mandato até o fim chegar nas conversas do povão. O pudor tem impedido Alckmin de tocar diretamente no assunto. Mas não faltarão vozes amigas para lembrar o episódio, quando for conveniente.

Nesta etapa, Alckmin joga no ataque. Serra, na defesa. Os deputados assistem e até se divertem, pois há muito tempo não tinham tremendo poder nas mãos.