Título: Serra sai da sombra e discursa em clima de campanha
Autor: Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2006, Nacional, p. A8
Prefeito não falou sobre disputa com Alckmin, mas usou inauguração para atacar governo e PT
Depois do destaque dado à pré-candidatura do governador Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República, o prefeito de São Paulo, José Serra ¿ outro potencial candidato da legenda e, até o momento, mais bem posicionado nas pesquisas ¿, voltou à cena ontem, já em ritmo de campanha. Nas comemorações dos 454 anos do bairro de Santo Amaro, zona sul da capital, ao inaugurar um coreto restaurado e um imóvel transformado em Paço Cultural, o prefeito discursou para cerca de 200 pessoas, ao lado de vereadores, secretários municipais e três deputados. Nada falou da disputa com Alckmin, mas ouviu a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP) dizer que ele, Serra, era ¿referência nacional¿ a ser seguida por políticos, incluindo ¿aquele homem de Brasília que só conta vantagem e não tem vergonha na cara¿.
Do coreto, o prefeito ¿ que, na noite anterior, havia estado com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que recebia em jantar um embaixador ¿ atacou o governo federal e o PT, criticando a operação tapa-buraco (de recuperação de estradas) e a falta de conhecimento para gerir a máquina pública. Só interrompeu seu discurso para ouvir o cantor Dominguinhos tocar clássicos do forró, como Asa Branca.
Quanto ao fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dito recentemente que considera curto o mandato de quatro anos, Serra rebateu dizendo que esse prazo é suficiente. ¿Dá tempo de fazer muita coisa, sempre que se comece a trabalhar no primeiro dia e não se reinvente a roda.¿ Mas o prefeito minimizou as acusações de que as obras de recapeamento na capital, como a operação federal tapa-buraco, teriam caráter eleitoreiro. ¿Nunca reclamo quando um governo faz algo, mesmo que seja por motivação eleitoral.¿
O prefeito saiu em defesa de seu vice, Gilberto Kassab (PFL), dos ataques feitos anteontem por aliados de Alckmin, o secretário de Educação, Gabriel Chalita, e o deputado estadual Milton Flávio (PSDB). Chalita questionou possível renúncia de Serra e Flávio lançou dúvidas sobre a capacidade de administração do vice.
¿O Gilberto Kassab é um homem correto e tem cooperado muito com o trabalho da Prefeitura¿, disse. ¿Estamos trabalhando em função das questões da cidade e acho que as pessoas podem emitir livremente opiniões. Não tenho mais o que comentar.¿ No fim da entrevista, ao ser indagado se seria candidato a presidente, Serra sorriu e deixou o local sem nada dizer. Assim coube ao secretário municipal de Subprefeituras, Walter Feldman (PSDB), reação incisiva ao que admitiu ser fogo amigo dos tucanos. ¿A manifestação (de Chalita e Flávio) é ruim até para o governador, pois passa a idéia de que ele tem a mesma opinião. E sabemos que não é o que acontece.¿