Título: PDT suspende Herrmann por suspeita de corrupção
Autor: Eugênia Lopes, João Domingos, Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2006, Nacional, p. A6

Com dados da quebra de sigilo da Beta, CPI dos Correios descobriu que deputado recebeu R$ 3 mil por mês da empresa entre 2003 e 2005

A direção nacional do PDT comunicou ontem por nota oficial a suspensão do deputado João Herrmann Neto (SP), até que sejam encerradas as investigações sobre depósitos que recebeu da empresa de transporte de cargas Beta. O episódio foi revelado pela CPI dos Correios, ao analisar a quebra de sigilo da empresa. Herrmann recebeu valores de R$ 3 mil mensais, entre março de 2003 e março de 2005, que somaram R$ 79 mil. Os primeiros pagamentos foram de R$ 3 mil, corrigidos até R$ 3,8 mil (última quitação). No total, foram 25 pagamentos mensais, interrompidos pouco antes de o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciar o esquema que envolvia a direção dos Correios.

A Beta (Brazilian Express Transportes Aéreos) é suspeita de irregularidades, em parceria com a transportadora Skymaster, em licitações dos Correios. Assinada pelo presidente do partido, Carlos Lupi, a nota sobre a suspensão do deputado avisa que seu afastamento vai durar ¿até a completa elucidação dos fatos, garantindo-lhe o amplo direito de defesa¿. Se confirmadas as suspeitas de envolvimento indevido do parlamentar com a Beta, a direção do PDT anuncia que ¿tomará as medidas estabelecidas no estatuto¿, sem dizer quais.

PUNIÇÃO

Para o senador Jefferson Péres (PDT-AM), se for comprovada alguma irregularidade o deputado deve ser expulso do partido. ¿Sou amigo do João Herrmann¿, afirmou, ¿mas a acusação, seja contra quem for, tem de ser apurada.¿ Mas Péres acrescentou, em seguida: ¿Espero que ele esteja inocente.¿

O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, vai encontrar-se na segunda-feira com o corregedor-geral da casa, Ciro Nogueira (PP-PI), para discutir o assunto e avaliar se é necessário abrir processo por quebra de decoro. Em seguida Aldo receberá também o próprio Herrmann. ¿O deputado solicitou uma audiência, e disse que pretende explicar tudo o que envolve seu nome¿ avisou.

DIVISÃO

A CPI investiga a suspeita de que a Beta, em parceria com a Skymaster, fraudava licitações dos Correios para o transporte aéreo noturno. Há divisão, entre seus integrantes, quanto à convocação do deputado. O sub-relator de movimentação financeira da comissão, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), entende que ele deve ser chamado a se explicar, mas o sub-relator de contratos da CPI, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), afirmou em nota que os documentos obtidos com a quebra do sigilo bancário da Beta precisam ser analisados com cuidado, antes que se tome qualquer decisão.

¿É inevitável chamá-lo¿, afirmou Fruet, explicando que a história dos repasses para Herrmann é conhecida entre os integrantes da CPI desde novembro. Segundo Fruet, dirigentes da empresa aérea já haviam revelado o repasse, em sessão reservada da CPI. Outro integrante da comissão, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), defende a apuração do caso.

¿Confirmados os depósitos sem justificativa cabal é evidente que o caso será investigado, podendo chegar ao Conselho de Ética¿, disse o tucano, que é amigo de Herrmann.