Título: Irã prevê fracasso dos EUA e UE
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2006, Internacional, p. A12

TEERÃ - O Irã disse ontem estar confiante de que os esforços dos Estados Unidos e da Europa de levar seu programa nuclear ao Conselho de Segurança da ONU fracassarão por causa da relutância da Rússia, China e dos países árabes de levar o caso adiante. No entanto, indicou que se a questão nuclear for levada ao CS da ONU ¿ onde poderá enfrentar a imposição de sanções ¿ será forçado a revisar sua cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O presidente linha-dura iraniano, Mahmud Ahmadinejad, criticou o Ocidente, dizendo que um acordo com o Irã seria mais lógico. ¿Levando em conta todas as circunstâncias, a possibilidade de um envio do caso ao Conselho de Segurança é débil¿, declarou o chanceler iraniano, Manuchehr Mottaki.

As palavras do chanceler iraniano contrastaram com a opinião de um diplomata europeu em Viena para quem ¿de uma forma ou de outra, o assunto irá para Nova York¿ (a sede da ONU). O diplomata declarou que, com toda a possibilidade, a junta de governadores da AIEA de 35 membros ¿ que se reunirá em Viena nos dias 2 e 3 ¿ tomará a decisão de levar o caso iraniano ao órgão máximo da ONU, apesar das divisões na comunidade internacional sobre as medidas a serem tomadas contra o programa nuclear iraniano.

China e Rússia têm resistido à proposta dos EUA, França, Grã-Bretanha e Alemanha de encaminhar a questão à ONU e provavelmente se absterão na votação. No entanto, poderão usar seu poder de veto quando e se o caso iraniano for levado ao CS da ONU. Na terça-feira, Rússia e China fizeram um apelo ¿à negociação em vez de confrontação¿. A China importa gás e petróleo do Irã e a Rússia vende tecnologia nuclear ao país islâmico.

O Irã suspendeu voluntariamente em 2003 suas atividades relacionadas ao enriquecimento de urânio. Mas no dia 10 retirou os lacres da usina nuclear de Natanz para retomar as pesquisas de enriquecimento ¿ que europeus e americanos temem que sejam direcionadas não para produção de energia, mas de armas atômicas. O país sustenta que tem direito de realizar as pesquisas nucleares e seu objetivo é o uso pacífico na produção de energia elétrica.

Apesar de ter pedido a retomada do diálogo, o governo de Teerã lembrou ontem as possíveis represálias que poderiam ser adotadas pela República Islâmica. ¿Se nosso caso for ao Conselho de Segurança, mesmo que seja para uma simples advertência, para reforçar a autoridade do diretor da AIEA, ou para decidir sanções contra nosso país, o governo se verá obrigado a pôr fim à suspensão de suas atividades (relacionadas com o enriquecimento de urânio)¿, disse Hossein Entezami, porta-voz do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã.

Ele também destacou que o país ¿também se verá obrigado a deixar de aplicar voluntariamente o protocolo adicional¿ que permite aos inspetores da AIEA supervisionar as atividades nucleares. ¿Isso significará que o nível de nossa cooperação com a AIEA diminuirá e a agência não quer isso¿, acrescentou Entezami.

A França, juntando-se aos americanos e britânicos, rejeitou ontem o pedido do Irã para a retomada de conversações, dizendo que primeiro Teerã deve suspender suas atividades nucleares.

A secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, e o chefe de política externa da União Européia, Javier Solana, reunidos ontem em Washington, disseram que ¿não faz sentido retomar as conversações com o Irã se não há algo novo em cima da mesa¿. Eles romperam a moratória, lembrou Rice.