Título: Copom leva cinco horas para fazer o que todos previam
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

Depois de quase cinco horas de reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) confirmou a aposta predominante do mercado financeiro e reduziu em 0,75 ponto porcentual a taxa básica da economia (Selic), para 17,25% ao ano. Apesar de ser a mais longa reunião do governo Lula, não houve discordância entre os dirigentes do Banco Central (BC) sobre o tamanho do corte na Selic, que voltou ao patamar de novembro de 2004. Na reunião de dezembro, não houve unanimidade na decisão de cortar em apenas 0,5 ponto porcentual a taxa de juros.

Em breve comunicado, o BC afirmou: ¿Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros básica, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 17,25% ao ano, sem viés, e acompanhar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação até a sua próxima reunião, para, então, definir os próximos passos na estratégia de política monetária implementada desde setembro de 2005.¿

Essa foi a quinta queda consecutiva dos juros, que começou em setembro de 2005. Apesar dos cortes, o Brasil continua na liderança isolada do ranking das maiores taxas de juros reais (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) do mundo. De acordo com dados da consultoria GRC Visão, com o corte de ontem o juro real caiu para 12,1% ao ano, quase o dobro do segundo lugar, de Cingapura, de 6,4% ao ano.

A decisão de ontem veio em linha com as expectativas do mercado financeiro, que apostou suas fichas numa queda de 0,75 ponto. Embora positivo, o corte não pode ser considerado um movimento mais agressivo do BC, afirma o economista Marcelo Allain, professor de MBA Fipe/USP. Isso porque, lembra ele, a partir deste ano as reuniões do Copom serão realizadas com intervalo de 44 dias, e não mais de um mês, como antigamente.

Para o economista, o momento era propício para a aceleração da queda da Selic, com a atividade econômica fraca, desempenho da balança comercial cada vez mais positivo e o mercado cambial tranqüilo. ¿É uma decisão bastante conservadora, que demonstra inconsistência na política econômica, na medida em que o BC mantém os juros altos e tem de atuar no câmbio para conter a valorização do real.¿

Para o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, sócio da Tendência Consultoria Integrada, a única surpresa na decisão do Copom foi o tempo. ¿Depois de 3h45, cheguei a pensar que o corte seria de um ponto porcentual.¿ Para ele, o Copom vai manter o ritmo de corte de 0,75 ponto até junho, quando a Selic estará na casa de 15% ano.

¿No segundo semestre, se não houver nenhuma surpresa eleitoral, o BC poderá diminuir em 0,25 ponto, o que levaria a taxa para 14% ao ano em dezembro, o nível mais baixo do Plano Real.¿