Título: Só com corte de 7 pontos País deixa liderança do juro
Autor: Marcelo RehderCleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2006, Economia & Negócios, p. B4

O Banco Central teria de cortar sete pontos porcentuais da Selic, isto é, reduzir a taxa de 18% para 11% ao ano, para que o Brasil deixasse de ser o campeão mundial de juros reais. Portanto, um corte de 0,5, 0,75 ou até 1 porcentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) "não refresca nada". Segundo os cálculos de Jason Freitas, economista da GRC Visão, a taxa de juros real do Brasil (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) passaria de 12,6% para 12,1%, depois de um corte de 0,75 ponto porcentual na Selic.

Com um corte de 1 ponto porcentual, a taxa real cairia de 12,6% para 11,9%.

De todo modo, o País continua bem à frente de Cingapura (6,4%), Turquia (5,7%), México (4,8%), Coréia do Sul (4,2%0 e China (4,1%) no ranking mundial de juros reais.

"Essa discussão sobre corte de 0,5 ponto ou 0,75 ponto é ridícula, porque, na prática, não muda nada", diz Freitas.

Com os juros reais na magnitude atual, o investimento continua baixo, porque vale mais a pena aplicar o dinheiro em renda fixa.

Com isso, não há investimentos em fábricas e equipamentos, a produção cresce pouco, o emprego e a renda do trabalhador patinam. O resultado é o crescimento pífio do ano passado, de pouco mais de 2% do PIB, segundo projeções da maioria dos economistas. Enquanto a maioria dos países da América Latina cresceu acima de 4%, o Brasil teve um desempenho medíocre do PIB em 2005. Para muitos analistas, o BC errou a mão e exagerou na dose de juros. A Autoridade Monetária esperava que houvesse recuperação da atividade no quarto trimestre, mas os números de produção industrial divulgados na semana passada indicam que isso é pouco provável.

ALERTA VERMELHO

Na opinião do economista, parece que o Banco central tem um bloqueio em relação à redução dos juros. "Parece que soa um alerta vermelho no Banco Central toda vez que os juros reais caem abaixo de 10% ou a Selic fica inferior a 15%", diz Freitas. "É como se fosse um número maldito, que desperta medo."