Título: 'Crescimento continuará raquítico'
Autor: Marcelo RehderCleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2006, Economia & Negócios, p. B4

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de reduzir em 0,75 ponto porcentual a taxa básica de juros, frustrou mais uma vez as expectativas de muitos empresários e sindicalistas, que esperavam aceleração no corte da Selic. Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, o Copom perdeu a chance de reduzir fortemente a Selic para estimular a economia. ¿No segundo semestre de 2005, o desempenho da economia foi pífio. Economia de sucesso é aquela que, com sua obsessão pelo crescimento, multiplica empregos, gera renda, amplia oportunidades de inclusão e ascensão e torna a sociedade mais equilibrada, suprida nas necessidades básicas e mais feliz. Esta não é a obsessão do BC¿, disse Skaf.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, a redução foi muito modesta. ¿O corte ainda significa postura extremamente cautelosa e conservadora do BC.¿ Ele lamentou a decisão, ¿porque o Brasil precisa aproveitar certas janelas de oportunidades para garantir taxas de crescimento mais altas em 2006¿. Para ele, a situação atual da economia não justifica mais a manutenção de juros reais tão elevados.

Na avaliação do diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof, a redução precisaria ser de pelo menos 1 ponto porcentual para que a economia respondesse com maior rapidez. O fraco ritmo da produção industrial no último trimestre, destacou, corre o risco de se repetir nos primeiros meses de 2006.

Em análise menos crítica, o presidente da General Motors, Ray Young, disse que a queda dos juros em 0,75 ponto vai permitir a ampliação dos prazos de financiamento de carros. O crediário é usado em 70% das vendas. ¿Certamente haverá mais promoções com taxas menores e prazos mais longos¿, disse.

Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o BC preferiu esperar um pouco para ver se efetivamente os números da economia real vão melhorar ou continuar ruins. ¿Para quem acha que a economia real não anda bem, como o Iedi, o passo poderia ter sido maior.¿

¿O Copom fez o mínimo necessário¿, disse o presidente da Federação do Comércio de São Paulo, Abram Szajman . ¿O País corre o risco de ter crescimento raquítico em 2006, a exemplo do que aconteceu no ano passado.¿ Ele reforça que os juros atuais inibem o setor produtivo. Para o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, a decisão é incapaz de criar ânimo no setor produtivo.

¿A falta de perspectiva para o setor, sinalizado com essa inexpressiva queda, comprometerá as negociações salariais do 1º semestre. A queda na Selic está acontecendo de forma extremamente lenta, anestesiando o crescimento e criando incertezas para a produção e os trabalhadores.¿

A direção da Central Única dos Trabalhadores informou que a queda ¿é bem-vinda, pois mantém o declínio iniciado em setembro de 2005¿. Em nota, a central avalia que a redução minimiza parte dos obstáculos à criação de empregos e melhores salários, abrindo espaço para o crescimento sustentado.¿