Título: Gasoduto é tema em almoço com Chávez
Autor: Leonardo Goy e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2006, Economia & Negócios, p. B6

BRASÍLIA - Os presidentes de Brasil, Argentina e Venezuela reúnem-se hoje na Granja do Torto para discutir política e a construção de um gasoduto que trará gás venezuelano até o Cone Sul. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva oferecerá almoço aos colegas Néstor Kirchner e Hugo Chávez. Embora a agenda oficial mencione o gasoduto e a ampliação do diálogo trilateral, o mais provável é que as conversas acabem dominadas pela política e pelas eleições que serão realizadas na região até o fim do ano. O governo nega que Kirchner e Lula aproveitarão para dar uma ¿enquadrada¿ em Chávez, que vive em constante confronto com os Estados Unidos.

¿Somos muito respeitosos de todos os países da região. Não vamos dar enquadradinha nenhuma¿, disse o assessor internacional do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia. ¿E, se houvesse essa absurda pretensão de dar uma enquadradinha, evidentemente o presidente Chávez é suficientemente soberano para não aceitar esse tipo de enquadramento.¿

Garcia discorda de avaliações de que as eleições podem trazer instabilidade à região. ¿Acho que há um movimento em direção à estabilidade¿, disse. ¿O que houve foi um processo de estabilização política, feito pela democracia. A sociedade boliviana se manifestou, por expressiva maioria, por um determinada forma política. Isto estabiliza. O que instabilizava a Bolívia era a situação anterior¿.

O assessor não acredita que o novo presidente boliviano, Evo Morales, enfrente problemas políticos.

¿Os presidentes anteriores eram fortemente minoritários do ponto de vista das instituições, do Congresso, e eram minoritários do ponto de vista da sociedade, e devemos entender que ocorreu uma revolução democrática, com a imensa maioria da população escolhendo um índio, um dirigente sindical, um sujeito humilde, que vem de baixo, para ocupar as funções de governo do País.¿

Segundo o Ministério de Minas e Energia, serão investidos de US$ 17 bilhões a US$ 25 bilhões na construção do gasoduto, que terá extensão total de 10 mil quilômetros e capacidade para transportar 150 milhões de metros cúbicos de gás por dia.

É intenção dos três países convidar a Bolívia para integrar a rede de gasodutos na região. Os técnicos estimam que a obra demandará seis anos.