Título: Acordo com EUA pode ser só blefe
Autor: Denise Chrispim Marin, Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2006, Economia & Negócios, p. B8,9

Uruguai pode estar ameaçando negociar um acordo bilateral com os EUA para pressionar Brasil e Argentina

BUENOS AIRES - Gerardo Caetano, um dos principais analistas políticos do Uruguai, considera que seu pequeno país, cercado pelo Brasil e Argentina, teve de usar o blefe como forma de sobrevivência comercial, econômica e política. Sendo um país historicamente hábil para jogar entre os dois poderosos vizinhos, o governo de Tabaré Vázquez estaria seguindo essa linha, pressionando os dois países com a ameaça de um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. As idas e vindas dos integrantes do gabinete Vázquez estão causando confusão em Buenos Aires e Brasília... Aqui também existe confusão. O programa de governo da Frente Ampla (coalizão que levou Vázquez ao poder) afirma que um dos principais eixos de sua política é que o Uruguai se integre na região, e que o `núcleo duro¿ é o Mercosul. Na realidade, existe um cenário de impasses no Mercosul, especialmente pelas assimetrias econômicas.

E houve uma transformação na área comercial, pois o Uruguai, que até há poucos anos destinava aos sócios do bloco mais de 50% das exportações, envia hoje menos de 25% e tem problemas para comercializar seus produtos no Brasil e Argentina.

E os EUA se tornaram o principal destino dos produtos uruguaios, representando mais de 25% das exportações.

Como fica o presidente?

Há poucos dias, ele recomendou aos ministros que pensem com a mente aberta na possibilidade de um acordo com os EUA, sem violar as orientações do programa da FA. São declarações fortes, mas ambíguas, pois um acordo de forma solitária com os EUA viola as regras do Mercosul.

A dúvida é se esta mobilização na direção de um acordo com os EUA é um movimento tático do governo uruguaio para exigir da Argentina e ao Brasil um aprofundamento do Mercosul e maior abertura de seus mercados.

O Uruguai pode estar blefando ?

Não seria a primeira vez.

O Uruguai sempre fez o papel de jogar com o equilíbrio entre Brasil e Argentina. A outra hipótese é que seja uma mudança estratégica. Isso seria uma mudança muito forte na política externa, buscando acordos bilaterais com os EUA e também com a China, Rússia e outros blocos.