Título: Lula, Kirchner e Chávez criarão o Banco do Sul
Autor: Denise Chrispim Marin, Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2006, Economia & Negócios, p. B8,9

Organismo financiará projetos sociais e econômicos;presidentes decidem também criar o Gasoduto do Sul

Brasil, Argentina e Venezuela decidiram criar o Banco do Sul, um organismo regional de financiamento de projetos sociais e econômicos, e reiteraram o compromisso de construir o Gasoduto do Sul, um projeto de US$ 20 bilhões que levará o gás das jazidas do Caribe venezuelano para o Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai. Aliadas à decisão de integrar a indústria bélica dos três países e de compor um Conselho de Defesa da América do Sul, para formular a estratégia defensiva do Continente, essas iniciativas deixaram claro o interesse de ampliar o escopo da integração sul-americana a esferas políticas e de tornar a região menos dependente dos organismos financeiros internacionais, que contam com elevada influência dos Estados Unidos.

As decisões estratégicas foram relatadas pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao final da reunião de quatro horas que manteve com os presidentes Lula e Néstor Kirchner, da Argentina, na Granja do Torto. Nem Lula nem Kirchner se manifestaram sobre a reunião, da qual esteve ausente a Petrobrás, o que indicou o conteúdo menos técnico e mais estratégico do encontro dos três líderes. Nem seu presidente, Sérgio Gabrielli, nem seus diretores foram convidados para a reunião.

¿Consolidamos o Grupo dos Três do Sul¿, comemorou Chávez, ao indicar a aliança estratégica composta entre Argentina, Brasil e Venezuela como a alavanca da integração sul-americana. Nova reunião dos três presidentes foi programada para 10 de março, em Mendoza (Argentina), na véspera da posse de Michelle Bachelet na presidência do Chile.

¿Estou mais convencido de que chegou o dia da união da América do Sul¿, disse, depois de ter acusado os EUA de tentarem retardar a integração da região e de imporem medidas contra a liberdade dos povos.

Proposta recorrente de Chávez, a criação do Banco do Sul finalmente obteve o aval de Lula e de Kirchner. Conforme relatou o presidente venezuelano, ainda será decidido se o banco será uma evolução da Corporação Andina de Fomento (CAF) ou um organismo novo. ¿A decisão política já está tomada.

Podemos colocar (no Banco do Sul) parte das nossas reservas internacionais para o financiamento de programas de desenvolvimento econômico e social¿, afirmou. ¿É a independência o que nós queremos¿.

Segundo Chávez, até julho deverá estar concluído o projeto da construção do gasoduto ¿ que deverá ter 7 mil quilômetros e conectar-se, possivelmente na região de Brasília, com os que partem da Bolívia e do Peru.

O presidente venezuelano classificou o projeto de ¿eixo estratégico para o futuro da América do Sul¿, e calculou que os investimentos poderão ser recuperados no prazo de 5 a 8 anos.

¿Como o preço do petróleo foi para cima, o do gás também pode ir. Se você tem um dólar para investir aí, irmão, invista¿, afirmou.

Chávez incluiu duas iniciativas na reunião com seus colegas. Primeiro, defendeu a criação de pólos industriais ao longo do Gasoduto do Sul, como ele mesmo batizou o projeto, para agregar valor à matéria-prima e aumentar a capacidade de geração de empregos.

A outra proposta foi a substituição, pelo menos no Brasil e na Venezuela, do uso da gasolina pelo gás como combustível automotivo, permitindo elevar as exportações da gasolina.

Ele estimou que, até 2020, os ganhos do seu país e do Brasil com essa substituição chegariam a US$ 15 bilhões, ou 4 milhões de barris diários de petróleo.