Título: BC não mudou sua ortodoxia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2006, Economia & Negócios, p. B2

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir de 18% para 17,25% ao ano a taxa Selic coincidiu com as previsões do mercado, mas mostrou que não foi abandonada a linha ortodoxa da sua política. Com efeito, ter cortado pela quinta vez consecutiva a taxa básica de juros, desta feita em 0,75 ponto porcentual (pp), em vez do 0,5 pp das reuniões anteriores, não indica que o Copom tenha mudado a política cautelosa. Se em janeiro, fevereiro e março fizesse cortes de 0,5 pp, a Selic fecharia o primeiro trimestre em 16,5%. Como se reúne agora a cada 45 dias, dará no mesmo.

O Brasil continua a ser o campeão dos juros altos, título que deixaria de ostentar apenas se, em cada uma das sete próximas reuniões, o Copom cortasse 1 ponto da taxa Selic.

O corte de 0,75 pp que acaba de ser feito tem por principal efeito a queda dos juros pagos sobre a dívida pública. Não se deve esperar que as instituições financeiras acompanhem tão cedo a decisão das autoridades monetárias; alguns economistas até acham que elas poderão aumentar suas taxas, tendo em vista que a remuneração que recebem pelos papéis do governo vai diminuir. É interessante notar que, até agora, só o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal anunciaram redução dos seus juros.

Enquanto os juros efetivos pagos pelos consumidores e empresas não acusarem uma redução significativa, essa política monetária não terá nenhum efeito sobre o crescimento da economia.

É preciso entender a posição ortodoxa do Copom, que, no comunicado publicado no final da sua reunião, avisou que acompanhará ¿atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação¿. De fato, enquanto o controle da inflação depender apenas da política monetária, o Banco Central terá de manter essa atitude ortodoxa.

É o grande desafio do governo petista neste último ano do seu mandato: encontrar meios não para substituir, mas para dar mais força à política monetária, sem que isso, no entanto, represente um obstáculo ao crescimento.

A equipe econômica sabe muito bem qual é a solução, embora exija sacrificar alguns itens da política atual. Cabe reduzir os gastos correntes para diminuir a necessidade de financiamento do setor público e aumentar os investimentos na infra-estrutura para elevar a produtividade do sistema.

Essa meta será atingida desde que os gastos adquiram grande racionalidade e deixem de ser mero instrumento para ganhar as eleições.