Título: Tortura: governo dificulta apuração
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2006, Internacional, p. A15

Segundo documento, gabinete de Blair tenta dissuadir deputados de investigar os chamados 'vôos da tortura'

LONDRES - O governo britânico está secretamente tentando abafar as tentativas de parlamentares de descobrir o que ele sabe sobre os "vôos da tortura" da CIA. Admite privadamente que pessoas capturadas por forças britânicas podem ter sido levadas ilegalmente para centros de interrogatório. Uma estratégia secreta para abafar um debate sobre a prática americana de transportar detidos para centros secretos onde eles poderiam ser torturados foi revelada num documento enviado pelo Ministério do Exterior britânico ao escritório do primeiro-ministro em Downing Street.

O documento revela que o governo britânico estava informado sobre centros de interrogatório secretos, apesar das negativas dos ministros. Os autores admitem que o governo não tinha idéia se pessoas detidas por tropas britânicas no Iraque ou no Afeganistão tinham sido levadas para centros secretos.

Com a data de 7 de dezembro do ano passado, o documento é uma nota de Irfan Siddiq, do escritório particular do ministro do Exterior, a Grace Cassy, do escritório de Tony Blair. Ele foi obtido pela revista New Statesman, cujo número mais recente saiu ontem. O documento foi redigido em resposta a um pedido de orientação de Downing Street (residência do primeiro-ministro) sobre "substância e gerenciamento" da controvérsia sobre os vôos da CIA e as alegações de conivência da Grã-Bretanha com a prática.

"Deveríamos tentar evitar nos enredarmos em detalhes", escreve Siddiq, "e avançar o debate ... sublinhando os fortes motivos para uma estreita cooperação antiterrorista com os EUA, dentro de nossas obrigações legais." O documento aconselha o governo de Tony Blair a se apoiar numa declaração de Condoleezza Rice de dezembro, em que a secretária de Estado americana declarou que os EUA não transportaram nenhum prisioneiro para nenhum país onde acreditassem que pudesse ser torturado.