Título: Fórum Social é vitrine para Chávez
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2006, Nacional, p. A6

A exemplo do que já aconteceu em 2005, em Porto Alegre, o presidente venezuelano Hugo Chávez será a grande estrela do Fórum Social Mundial, que será aberto amanhã na capital da Venezuela, cuja característica principal é a oposição ao modelo neoliberal e ao chamado imperialismo americano. O fórum começa com um ato de protesto contra o imperialismo e uma marcha pelas ruas da cidade. Até ontem, 50 mil pessoas já tinham confirmado participação no evento, mas, segundo os organizadores, o total poderá chegar a 150 mil.

¿Não há possibilidade de se construir um outro mundo, melhor do que esse, sem combater o imperialismo e controle dos mercados pelas grandes corporações internacionais¿, disse ontem, na apresentação do evento, a brasileira Analu Farias, integrante do comitê organizador.

Chávez discursará num ato público programado para sexta-feira, sob a organização da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Movimento dos Sem-Terra (MST) e da Via Campesina; e voltará à cena no domingo, no encerramento do encontro, dessa vez a convite da Assembléia Mundial de Movimentos Sociais.

O governo venezuelano investe pesadamente no encontro. Além de ser seu principal financiador e de colocar a estrutura do Estado à disposição dos organizadores, Chávez aproveita a oportunidade para exibir suas realizações e convencer os visitantes de que a Venezuela vive um processo revolucionário. Um indicador disso é a quantidade de atividades patrocinadas por organizações venezuelanas: serão 400, num total de 1800. Em grande parte destas organizações locais a fronteira delas com o governo é muito tênue, segundo cientistas políticos; e, no decorrer do fórum, elas irão tratar sobretudo das políticas sociais desenvolvidas por Chávez.

MANIFESTAÇÕES

O governo tem organizado passeios com participantes do fórum por áreas pobres da capital onde são mais visíveis suas ações na área social. O prefeito Elói Pietá (PT), de Guarulhos, pegou carona com um grupo de parlamentares uruguaios num desses tours e voltou encantado: ¿É impressionante o que este governo está fazendo pelos pobres.¿

Ontem, a rotina na capital venezuelana foi interrompida por uma manifestação política numa de suas principais avenidas. Milhares de pessoas marcharam durante mais de 2 horas gritando slogans contra Chávez. Hoje, dia em que a Venezuela comemora a queda do ditador Pérez Jimenez, em 1958, os partidários de Hugo Chávez devem dar o troco com uma manifestação a favor do presidente.

Os organizadores admitem que sem o decidido apoio de Chávez não teria sido possível realizar o encontro de Caracas. Mas negam que isso comprometa a independência que o fórum procura manter diante de governos e partidos.

EMPATIA

Na opinião de Edgardo Lander, cientista social e integrante do comitê organizador, há uma forte empatia e identidade política entre o fórum e Chávez. ¿E isso não começou aqui na Venezuela¿, disse. ¿O ato político mais importante na edição mundial do fórum de 2005, em Porto Alegre, foi o discurso de Chávez no Gigantinho.¿

Ainda segundo Lander, as edições anteriores do fórum também só foram possíveis com o apoio do governo dos países que as sediaram. Lembrou que em Porto Alegre o evento sempre teve o apoio da prefeitura, dos governos estadual e federal e de empresas estatais, como a Petrobrás e o Banco do Brasil.

O Fórum Mundial Social deste ano foi dividido em três edições continentais, na África (Mali), Ásia (Paquistão) e América (Venezuela). A de Mali foi realizada na semana passada; a da Venezuela deve ser a mais numerosa das três; e a do Paquistão ainda não tem data para ser realizada. Em 2007 o fórum voltará a ser concentrado num só lugar, na África.