Título: Com Lagos na posse, o mar pode estar mais perto
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2006, Internacional, p. A8

Pela primeira vez em 51 anos um presidente do Chile compareceu à posse de um presidente boliviano.O encontro entre Evo Morales e o líder chileno, Ricardo Lagos, trouxe esperanças de reatamento de relações diplomáticas, rompidas em 1978 depois de infrutíferas negociações sobre a reivindicação da Bolívia de concessão de território chileno para seu acesso ao mar. A Bolívia perdeu sua saída para o mar na Guerra do Pacífico, no século 19. Lagos anunciou ter chegado a um acordo com Morales para ¿uma agenda de aproximação, sem exclusões e com realismo¿, para tratar de todos os temas de interesse dos dois países. Ele não descartou a possibilidade de rápido restabelecimento de relações diplomáticas. Lagos lembrou que recentemente houve avanços nas relações bilaterais, como a ampliação dos laços comerciais. Mesmo assim, os dois países mantêm apenas relações em nível consular.

Em maio de 2002, Lagos fez uma visita não-oficial à Bolívia para acompanhar o funeral do ex-presidente Hugo Bánzer, e no ano seguinte voltou ao país para uma cúpula regional em Santa Cruz de la Sierra.

Morales qualificou o encontro de histórico, mas preferiu manter cautela ao referir-se à centenária reivindicação de uma saída para o mar. Os dois conversaram por 40 minutos na casa de Morales e depois apareceram à janela de mãos unidas, em sinal de amizade. O filho de Lagos, Ricardo Lagos Weber, acompanhou o pai, enviado da presidente eleita do Chile, Michelle Bachelet, que tomará posse em março.

A perda da saída para o mar nunca foi aceita pelos bolivianos. O Chile se recusa a negociar, argumentando que um tratado de 1904 estabeleceu os limites definitivos. A Bolívia insiste que todos os tratados podem ser revistos. Morales indicou na campanha que o reatamento pleno de relações diplomáticas depende da disposição do Chile de restabelecer o acesso da Bolívia ao Pacífico.