Título: Mercado interno volta ao centro das atenções das empresas
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

O mercado doméstico volta a ser o centro das atenções das empresas neste ano. Empurrada pelo real valorizado, a indústria reforça a produção direcionada ao consumo interno, favorecido pelo fato de 2006 ser ano eleitoral e de Copa do Mundo. Além disso, a possível antecipação do aumento do salário mínimo e a continuidade da política de redução dos juros dão um fôlego adicional para o consumo. Os primeiros sinais já começam a aparecer, ainda que de forma tímida. Grandes redes de varejo de eletroeletrônicos e móveis, como as Lojas Cem e a Colombo, detectaram este mês um crescimento de 5% a 6% no faturamento, em relação a igual período de 2005, depois do movimento de vendas no Natal abaixo do esperado. ¿Estamos planejando um bom ano, com aumento de 20% no faturamento¿, diz Valdemir Colleone, supervisor-geral das Lojas Cem.

Para Arnildo Heimerdinger, diretor de vendas e marketing das Lojas Colombo, o bom desempenho registrado até agora decorre principalmente da liquidação de sobras do Natal. Com a redução da taxa Selic para 17,25% ao ano, a rede pretende diminuir também os juros cobrados do consumidor nesta semana. ¿A queda será pequena, mas o importante é a expectativa positiva que a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) deve criar no mercado¿, ressalta Heimerdinger.

As indústrias já se preparam para atender a um aumento de vendas. A Suzano Petroquímica, que produz polipropileno, material usado na fabricação de componentes de plástico para automóveis, eletroeletrônicos, têxteis e embalagens, espera um crescimento de 8% na demanda doméstica este ano, que seria resultado de uma expansão prevista de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB) do País. A empresa está ampliando em 10% a sua capacidade de produção, que hoje é de 625 mil toneladas de polipropileno por ano.

¿Vamos produzir mais 65 mil toneladas a partir de abril para o mercado interno¿, diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor-superintendente da Suzano Petroquímica. Segundo ele, a empresa está otimista por acreditar que a economia crescerá mais este ano e os governos estaduais e federal vão investir em infra-estrutura, o que gera mais emprego e renda e aumento do consumo. Além disso, o mercado internacional continua favorável, apesar da valorização do real frente ao dólar. A Suzano exporta entre 15% e 20% de tudo o que produz e pretende repetir o mesmo resultado externo registrado em 2005.

A B.Grob do Brasil, fabricante de máquinas-ferramenta de São Bernardo do Campo (SP), que fechou 2005 no vermelho, já trabalha com a expectativa de um pequeno lucro este ano, por causa da reação do mercado interno e dos resultados de um plano de redução de custos colocado em prática desde o ano passado. Segundo Klaus von Heydebreck, presidente da empresa, o número de consultas das indústrias, principalmente as de autopeças, cresceu mais de 30% este mês em relação a janeiro de 2005. A expectativa é de faturar em torno de US$ 70 milhões este ano, dos quais 60% no mercado interno. Em 2005, a participação das vendas domésticas foi de 30%.

¿Fizemos um ajuste para conviver com a realidade do dólar baixo e achamos que, sem reduzir o nível de produção, vamos passar o ano sem prejuízo¿, diz Heydebreck. Entre as medidas de ajuste adotadas, o executivo ressalta o aumento da importação de insumos como o aço, cujo preço fica 15% mais barato vindo da Alemanha em relação ao produzido aqui.

Para a consultoria MB Associados, essa tendência deve se acentuar nos próximos meses, mas sem comprometer o superávit da balança comercial, que deve se manter acima de US$ 40 bilhões. Para Tereza Maria Fernandez Dias da Silva, diretora da MB, o setor de bens de capital é um dos que mais têm sofrido com o câmbio. ¿As exportações de máquinas e equipamentos vêm se desacelerando, as importações estão crescendo e a produção, caindo¿.

No setor de embalagens de papelão ondulado, considerado um termômetro da economia, a expectativa é positiva. No Grupo Orsa, a previsão é de um crescimento de 5% nas vendas este ano, ante o aumento de 2% registrado em 2005. ¿O nível de encomendas está igualzinho ao de dezembro, o que indica que ainda não está havendo reposição de estoques, mas está acima do registrado em janeiro do ano passado¿, diz Sérgio Amoroso, presidente do grupo.