Título: Investimento desacelera em 2005
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2006, Economia & Negócios, p. B3

A disposição dos empresários de investir perdeu o fôlego em 2005 e o resultado só não despencou por causa de um megainvestimento da Petrobrás anunciado em dezembro. No ano passado, o total de investimentos anunciados somou US$ 105 bilhões, praticamente a mesma cifra do ano anterior, de US$ 102,4 bilhões, segundo levantamento da consultoria Simonsen Associados. A taxa básica de juros mantida em níveis elevados, a frustração nas previsões do ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e os efeitos da crise política sobre o humor dos empresários reduziram o volume de investimentos no segundo e no terceiro trimestres comparativamente ao mesmo período de 2004.

Mas, no apagar das luzes, a Petrobrás divulgou, numa tacada só, que pretende gastar US$ 16,5 bilhões em projetos de exploração e produção de petróleo. ¿A Petrobrás desbalanceou o resultado do ano¿, diz a sócia-diretora da consultoria, Maria Angela Conrado. Ela observa que, descontado o anúncio da Petrobrás, o total de investimentos voltaria ao nível de 1995, terceiro menor dos últimos 12 anos.

¿A expectativa era de que o investimento anunciado atingisse em 2005, no máximo, US$ 90 bilhões, 10% a menos do que no ano anterior¿, observa Maria Angela, responsável pela pesquisa.

O levantamento feito pela consultoria considera os investimentos anunciados pelas empresas, a maioria privadas, com período de maturação de quatro anos. Maria Angela destaca que a pesquisa reúne apenas os investimentos direcionados para aumento da capacidade de produção e não leva em conta recursos aplicados na compra de outras companhias, fusões e joint ventures.

A experiência mostra que cerca de 20% dos investimentos anunciados não são realizados e um porcentual equivalente não é anunciado, diz a consultora. Portanto, por esta constatação, as cifras consolidadas de anúncios se aproximam dos investimentos efetivos.

Como há uma forte correlação entre os investimentos anunciados e os efetivos, classificados nas contas nacionais como Formação Bruta de Capital Fixo, a consultora pressupõe que o desempenho do PIB deste ano poderá superar o de 2005, puxado especialmente pelo investimento. ¿Além disso, 2006 é um ano eleitoral, com mais recursos circulando na economia, o que reforça a perspectiva de que o desempenho do PIB será melhor.¿

SETORES

O levantamento aponta que extração de petróleo e gás foi o setor que reuniu maior volume de anúncios de investimentos no ano passado: US$ 28,8 bilhões, mais que o dobro de 2004 (US$ 12,5 bilhões). A indústria de metal primário, líder em investimentos em 2004, ficou em segundo lugar no ranking dos setores, com investimentos de US$ 17,1 bilhões. O setor de mineração de metais somou anúncios de investimentos da ordem de US$ 10 bilhões e ficou em terceiro lugar no ranking.

Segundo a consultora, os três maiores setores em absorção de investimentos são os mesmos de um ano para o outro, e a participação deles juntos, no total de recursos anunciados, aumentou. No ano passado, os investimentos em extração de petróleo e gás, indústria de metal primário e mineração de metais responderam por 53,3% do total. Em 2004, a fatia desses três setores foi de 40%.

¿Realmente, o Brasil depende da indústria básica. Mais da metade do investimento está voltado para a produção de commodities¿, observa Maria Angela. Na opinião dela, não está havendo diversificação na pauta do investimento para puxar exportações de produtos de maior valor agregado. ¿Vamos continuar exportando commodities e automóveis.¿

O levantamento mostra que, no ano passado, mais da metade dos investimentos anunciados (56,7%) foram direcionados para os Estados do Sudeste, perfil semelhante ao de 2004. A diferença de 2005, observa a consultora, foi que o Estado de São Paulo perdeu a liderança na absorção dos investimento dentro da região e do País e foi ultrapassado pelo Rio de Janeiro.

No ano passado, US$ 19,2 bilhões foram anunciados para o Estado do Rio, quase duas vezes e meia a cifra anunciada em 2004. O avanço do Estado no total dos investimentos, de 13,5% do total, em 2004, para 28,2%, em 2005, foi impulsionado pelo setor de petróleo e gás, especialmente pela Petrobrás.

Em contrapartida, São Paulo perdeu representatividade. Em 2004, os investimentos anunciados para o Estado somaram US$ 12,2 bilhões, ou 21,5% do total. No ano passado, foram anunciados US$ 8,1 bilhões, ou 11,9% do total. Na região Nordeste, segunda mais importante na absorção de investimentos em 2004 e 2005, com 18,8% do total, o destaque foi para Pernambuco e Bahia, com US$ 4,3 bilhões e US$ 4,6 bilhões, respectivamente.