Título: China e Índia, as estrelas de Davos
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

A emergência da China e da Índia como novas potências econômicas será um dos principais temas do Fórum Econômico Mundial de 2006, que será realizado em Davos, pequena cidade alpina da Suíça, entre 25 e 29 de janeiro. Outros assuntos importantes serão a conjuntura econômica global, com a alta do petróleo e o aumento da demanda por matérias-primas; e a criação de empregos na economia mundial transformada pela globalização. O Fórum Econômico de 2006 deve contar, segundo a organização, com 2.340 participantes de 89 países. Está prevista a ida de 15 chefes de governo, 60 autoridades de nível ministerial, 23 líderes religiosos, 13 líderes sindicais e mais de 30 chefes de organizações não-governamentais (ONGs). Cerca de metade dos participantes são empresários e executivos de aproximadamente mil empresas ¿ entre as maiores do mundo, e dos mais diversos segmentos ¿ que são as patrocinadoras da organização responsável pelo evento.

O tema síntese do Fórum de 2006 será o ¿imperativo da criatividade¿. A escolha é coerente com a estratégia do encontro de Davos nos últimos anos de suavizar a imagem do evento, que vinha se fixando na percepção da mídia e do grande público como uma reunião da elite econômica mundial, preocupada basicamente em aumentar seus ganhos com a globalização.

Esta ansiedade dos organizadores de Davos em relação à sua própria imagem foi reforçada com o surgimento do Fórum Social Mundial, criado explicitamente para se tornar um contraponto crítico ao Fórum Econômico. Este ano, por centrar-se na Caracas do inflamado presidente venezuelano, Hugo Chávez, o Fórum Social deve transformar-se em um palco de questionamento ainda mais incisivo da globalização, com a qual, em última instância, o encontro de Davos não pode deixar de identificar-se.

Que o Fórum Econômico é um encontro da elite econômica e política global, não se discute. A ênfase agora, porém, é que estes líderes preocupam-se com o resto da humanidade, e estão empenhados em ajudar a resolver os grandes problemas econômicos, sociais, políticos, religiosos e étnicos ¿ e, naturalmente, também tornar mais rentáveis os seus negócios, no caso dos participantes ligados ao mundo empresarial.

Em 2006, o desfile de celebridades empresariais e políticas na superlotada estação de esqui será, como de hábito, impressionante. O discurso de abertura do evento será pronunciado por Angela Merkel, a primeira-ministra alemã. Comentando a sua participação no evento, Merkel, que se tornou uma celebridade ao entrar no grupo super restrito de mulheres que chegaram ao comando de grandes potências, disse que a Alemanha vai adotar soluções ¿pragmáticas e inovadoras¿ para abordar seus principais problemas. ¿Precisamos reforçar o sentimento de que os desafios globais podem ser enfrentados com sucesso¿, declarou.

Outros chefes de governo com presença prevista no Fórum de Davos deste ano são Pervez Musharraf, presidente do Paquistão; Hamid Karzai, presidente do Afeganistão; Recep Tayyip Erdogan, primeiro-ministro da Turquia; Ellen Johnson-Sirleaf, presidente da Libéria; Olusegun Obasanjo, presidente da Nigéria; Ibrahim Jaafari, primeiro-ministro do Iraque; além dos líderes de países como Letônia, Líbano, Noruega, Polônia e Suíça.

Ainda no mundo político, devem ir a Davos estrelas como Mohamed El Baradei, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica e último agraciado com o prêmio Nobel da Paz; Kofi Annan, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU); Paul Wolfowitz, presidente do Banco Mundial; Javier Solana, principal autoridade de Política Externa e de Segurança da União Européia; Gordon Brown, ministro das Finanças da Grã-Bretanha e freqüentemente apontado como possível substituto do primeiro-ministro Tony Blair no campo trabalhista.

O encontro de Davos reunirá alguns dos principais protagonistas das negociações comerciais globais, embaraçadas no lento e penoso processo de discussão da Rodada de Doha. Estão previstas as presenças do diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy; do negociador da União Européia, Peter Mandelson; do representante comercial dos Estados Unidos (o principal negociador), Robert Portman, além do chanceler brasileiro, Celso Amorim.

Mas é no mundo empresarial que o Fórum Econômico de 2006 deve exibir a sua musculatura de ponto de encontro dos poderosos do mundo. Da área de tecnologia de comunicação, irão pesos pesados como Bill Gates, da Microsoft, John Chambers, da Cisco System, Michael Dell, da Dell, e Larry Page e Sergey Brin, do Google. Outras estrelas são o empresário pop Richard Branson, do Virgin Group; George Soros, mistura de filantropo, crítico do capitalismo e megainvestidor; e o executivo prodígio Carlos Ghosn, que tem raízes brasileiras e comanda a Renault Nissan. Do Brasil, está prevista a ida de José Gabrieli, presidente da Petrobrás, e de Jorge Gerdau Johannpeter, presidente da Gerdau.