Título: Pesquisa revela um trunfo do governador: base no Congresso
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2006, Nacional, p. A8

O candidato dos tucanos, porém, será escolhido pela cúpula do partido, menos de meia dúzia de líderes

Os números da pesquisa do Estado não devem ser diminuídos nem exagerados. Eles mostram que o governador Geraldo Alckmin conseguiu articular uma base de apoio no Congresso bem maior do que imaginava a maioria dos observadores políticos. Não se trata de trunfo desprezível. Mas, como se sabe, política é como nuvem ¿ um dia está de um jeito, depois fica de outro, ainda mais quando se trata da opinião dos próprios políticos. O candidato não será escolhido pelas bases do PSDB, mas pela cúpula, menos de meia dúzia de líderes de força nacional: o ex-presidente FHC, o senador Tasso Jereissati, seu presidente, e o governador de Minas, Aécio Neves. Pode-se acrescentar um cacique aqui, outro ali, mas esse é o triângulo que tem o poder de mando, sabe ouvir e pode convencer. José Serra e Alckmin seriam nomes obrigatórios na mesa de negociações ¿ mas, como partes interessadas, estão excluídos da conversa.

O trio poderoso dança uma música de interesses delicados. Tasso, principal rival de Serra em 2002, é visto como simpático a Alckmin, mas tem assumido neutralidade absoluta. FHC é amigo de Serra, acredita que tem preparo para o cargo e seria espantoso se apoiasse Alckmin, a menos que não tivesse opção. Aécio é colega (e adversário) de geração de Alckmin. Não tem relações preferenciais com Serra, mas abrir espaço para o governador paulista este ano pode implicar ficar com o futuro bloqueado em 2010, quando sonha deixar o governo após o segundo mandato.

A disputa entre Serra e Alckmin estará resolvida de um jeito ou de outro no início de março. Alckmin já informou que quer disputar a Presidência e deixará o governo até 1º de abril. Serra, que tem o mesmo prazo, só deixará a Prefeitura se tiver garantia de que será o escolhido. Até lá, eles vão medir forças e negociar.

Se Alckmin foi o mais votado, o principal sinal dado pelos parlamentares na pesquisa do Estado é que pretendem marchar unidos: 9 dos 15 senadores deixaram isso claro, escrevendo o nome dos dois pré-candidatos ou a palavra ¿unidade¿ na cédula. Outros 2 nem votaram, para evitar que o levantamento servisse para dividir um partido que entrou rachado na campanha de 2002 ¿ e só voltou a se unir quando era tarde demais. Dos deputados, 4 não votaram e 5 usaram a cédula para pedir unidade.

¿Vamos eleger um programa viável e trabalhar pelo candidato¿, diz o senador Antero Paes de Barros (MT). ¿Se for candidato, Serra precisará do prestígio do governador para vencer. Alckmin precisará do apoio do Serra. Um precisa do outro.¿