Título: Bancada do PSDB prefere Alckmin a Serra como candidato à Presidência
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2006, Nacional, p. A8

Dos 52 deputados que falaram ao ¿Estado¿, 27 acham governador melhor, contra 16 que preferem prefeito

A bancada tucana na Câmara prefere o governador paulista, Geraldo Alckmin, como seu candidato à Presidência da República. O Estado convidou 52 dos 53 deputados tucanos (98% do total) para participar de simulação de prévia eleitoral e definir o candidato do PSDB. Alckmin surpreendeu, mostrando vantagem ampla e segura: teve 27 votos (ou 52% das preferências). O prefeito de São Paulo, José Serra, que tem liderado pesquisas de intenção de voto com o eleitor comum, recebeu 16 votos (30% do total). Outros 5 parlamentares cravaram o nome dos dois candidatos na cédula e 4 preferiram não votar, convencidos de que esse debate, agora, poderia abrir feridas difíceis de cicatrizar na campanha. Argumentam que o partido deve marchar unido na campanha, ao contrário do que ocorreu em 2002. Ausente do Brasil, o deputado paulista Carlos Sampaio foi o único deputado a não participar da pesquisa.

No Senado, a votação terminou empatada. Numa bancada de 15 integrantes, Serra e Alckmin ficaram com 2 votos cada um. Ali, 2 senadores ¿ inclusive Tasso Jereissati, presidente do partido ¿ se recusaram a votar, também temerosos de abrir fendas nas fileiras do partido. Os outros 9 cravaram o nome dos dois concorrentes na cédula.

Os números da enquete surpreenderam pois o pressuposto era de que Serra teria apoio de 60% da bancada do partido, refletindo pesquisas de intenção de voto de eleitores de todo o País. Mas os dados mostram que o nome do prefeito é apoiado só por um terço dos deputados tucanos. E, se em várias pesquisas com o eleitor comum Serra já apareceu batendo o presidente Lula, ficou claro que falta mesmo conquistar o próprio ninho: entre os deputados, a vantagem de Alckmin sobre o prefeito chega a quase 2 por 1.

¿Estou chocado com essa notícia¿, reagiu um deputado tucano, amigo de longa data de Serra. ¿É um dado que vai contra tudo aquilo que se dizia e se imaginava.¿ A convicção de que José Serra teria o apoio da maioria dos parlamentares se baseava em seu comportamento depois da derrota para Lula em 2002. Ele assumiu a presidência do PSDB e dedicou-se à articulação nacional do partido. Viajou pelo Brasil, fez amizade com prefeitos e, conforme descreve um aliado, ¿até parecia ter-se transformado em outro político, mais maduro, com imagem menos antipática¿.

Serra manteve postura de adversário duro do governo Lula, mesmo no período em que a popularidade presidencial inspirava atitude mais conciliadora entre colegas do partido, comportamento que contribuiu para reforçar sua popularidade quando o Planalto se desgastou com o escândalo do mensalão.

¿Tenho certeza de que o Alckmin acabará sendo escolhido pelo partido¿, disse o deputado paranaense Afonso Camargo, que foi ministro no governo de José Sarney. ¿Ele é a verdadeira renovação.¿ Seguindo o exemplo do prefeito, a maioria dos aliados de Serra evita fazer campanha aberta pelo seu nome, temerosos de estimular a divisão no partido. Há vários dias que parlamentares alinhados com Alckmin têm se dedicado a um trabalho de conquista de apoio à candidatura do governador. O argumento principal envolve a possibilidade de Serra renunciar a Prefeitura antes da metade do mandato. ¿Eles bateram muito nisso¿, relata um parlamentar alinhado com Serra, para quem esse tipo de argumento tenta reduzir um debate nacional a um ¿problema municipal¿.

Aliada de Alckmin, a deputada gaúcha Yeda Crusius, ministra no governo Itamar Franco, lembra que a bancada ¿está querendo participar e dar sua opinião¿. Para ela, os deputados do PSDB ajudaram a mostrar mazelas do governo Lula na crise do mensalão. ¿A resistência à crise foi feita pelo Parlamento, onde tivemos um papel importante. Queremos ser ouvidos agora, também.¿