Título: PT banca defesa de testemunha do caso dos US$ 3 milhões de Cuba
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2006, Nacional, p. A4

Segundo apurou a CPI dos Bingos, advogado do partido ajudou motorista que teria transportado dinheiro

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos descobriu que um advogado do PT, Hélio Silveira, ajudou na defesa e pagou despesas do motorista Éder Eustáquio Macedo, apontado pela revista Veja como o condutor do carro em que teriam sido transportados US$ 3 milhões supostamente doados pelo governo de Cuba para o caixa 2 do partido. Macedo prestou ontem à CPI um depoimento cheio de contradições, que serviu para aumentar ainda mais as suspeitas dos senadores. Durante a inquirição, Macedo não quis informar aos parlamentares quem bancara sua diária de R$ 476,79 no Hotel Mercure, na região central de Brasília. Um delegado da Polícia Federal que assessora a CPI precisou ir até o hotel para confirmar que o responsável tinha sido Silveira ¿ que estava o tempo todo na sala em que transcorria o depoimento. O advogado trabalha para o PT e para a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy.

Também foi Silveira quem providenciou a presença da advogada Stela Cristina Nakazato, que prestou assistência ao motorista durante o depoimento e chegou a ser advertida pelos senadores por interferir nas respostas de seu cliente. Para descobrir isso, os senadores tiveram de interrogar Stela diretamente, pois Macedo disse não se lembrar como tinha entrado em contato com a advogada.

O motorista trabalha atualmente como funcionário comissionado do Ministério da Fazenda no Rio. Disse ter conseguido o emprego com Ademirson Ariosvaldo da Silva, secretário particular do ministro Antonio Palocci. Inicialmente, Macedo viajaria do Rio para Brasília ontem mesmo, em deslocamento custeado pela CPI, como é de praxe. Mas sua viagem foi antecipada para a véspera a pedido de uma assessora parlamentar do ministério, Ilma Lima. Dois assessores da Fazenda assistiram ao depoimento.

ÔMEGA

O depoimento de Macedo ajudou a confirmar alguns pontos da reportagem publicada por Veja. Segundo a revista, ele dirigiu o Ômega blindado no qual os dólares teriam sido transportados de Campinas para São Paulo.

O motorista confirmou ter feito a viagem, mas disse não visto dinheiro algum. Contou ainda ter levado como passageiro Ralf Barquete, então secretário da Fazenda de Ribeirão Preto, quando o prefeito era Palocci. Macedo disse aos senadores que, na época, trabalhava como motorista de táxi e prestava serviço para a locadora dona do carro, pertencente ao empresário Roberto Kurzweil, amigo do hoje ministro da Fazenda.

No depoimento, contou ter seguido orientação da locadora para pegar Barquete no Aeroporto de Congonhas. Segundo ele, Barquete lhe pediu para ser levado até Viracopos. Depois, porém, mudou de idéia e decidiu ir para um aeroporto menor na mesma região, o de Amarais, onde aguardou a chegada de outro assessor de Palocci, Vladimir Poleto ¿ que, segundo a revista, trazia o dinheiro num pequeno avião.

Macedo disse não ter saído do carro em nenhum momento. Relatou que, a mando de Barquete, abriu o porta-malas do veículo, acionando um botão no porta-luvas. ¿Ele fechou o porta-malas, entrou no carro acompanhado do Vladimir e pediu que voltássemos a São Paulo, onde o deixei (Poleto) na churrascaria Montana Grill¿, contou o motorista, que assegurou não ter visto o que foi guardado no carro. Barquete ficou no carro e foi deixado em Congonhas.

Os senadores ficaram insatisfeitos com as respostas de Macedo. ¿A denúncia da doação de Cuba tem um morto, um bêbado e agora um desmiolado¿, afirmou o senador Romeu Tuma (PFL-AP), referindo-se ao fato de Barquete ter morrido no ano passado e de Poleto ter dito na CPI que costuma ficar ¿de pileque¿.