Título: Valério ameaça abrir sua caixa-preta
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2006, Nacional, p. A5

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza ameaça revelar ao Ministério Público Federal tudo o que sabe sobre as transações que teria efetuado com políticos, principalmente aqueles ligados ao PSDB mineiro. No domingo, Valério manteve um encontro informal com dois procuradores federais para tentar, pela segunda vez, o benefício da delação premiada. Em troca da redução de pena, o empresário daria nomes e documentos das operações de caixa 2 executadas pelas agências SMPB e DNA. Ele pediu, inclusive, um encontro com o procurador-geral, Antônio Fernando de Souza, que está em férias e só deve se pronunciar após o dia 30. ¿O Ministério Público somente se manifestará se provocado¿, informou a assessoria do procurador. Há quem enxergue na movimentação mais uma história de chantagem protagonizada por Valério. ¿Ele está fazendo uma série de ameaças. Está dizendo que contará tudo o que sabe em troca da delação premiada¿, contou ao Estado um senador, pedindo para se manter no anonimato. ¿Ele está se sentindo solitário, isolado e sitiado na sua própria casa. E agora quer atirar para tudo o que é lado.¿ Segundo um importante petista, o empresário já foi advertido de que qualquer dado envolvendo o partido em novas denúncias será respondido com violência. Por isso, se indagado sobre o PT, Valério estaria disposto a apenas repetir o que disse na CPI dos Correios, para despistar o seu próximo alvo. Através de assessores, o empresário disse ontem que só vai dar qualquer declaração após o término da CPI. REUNIÃO O empresário já teria mandado avisar a Pimenta da Veiga ¿ ex-ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso, que recebeu R$ 150 mil das empresas de Valério ¿ que abrirá os segredos do PSDB. Os dois chegaram a marcar uma reunião em Belo Horizonte. Segundo a explicação dada até agora por Pimenta, o dinheiro foi recebido como pagamento por uma consultoria jurídica. Já Valério, em uma das suas inúmeras versões, inocentou Pimenta, assegurando que o dinheiro teria sido doado ao tucano para ajudá-lo a cuidar da saúde do filho, que depois acabou morrendo de câncer. ¿Eu perdi um filho e sei o que é a dor de um pai. Dei o dinheiro para ajudá-lo¿, garantiu Marcos Valério, há quatro meses. Agora, a versão seria diferente. Valério já pleiteou anteriormente o benefício da delação premiada. Em meados do ano passado, o empresário desembarcou em Brasília prometendo contar como teria operado com o PSDB mineiro, o PT e o PL. Ele chegou a ter um encontro com o procurador-geral, mas o benefício não saiu. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, disse ontem que Valério não tem credibilidade para fazer denúncias. ¿O procurador Antônio Fernando é um homem sério e somente aceitaria novas denúncias se elas envolvessem a todos, principalmente o atual governo e o PT.¿