Título: 'Integração bélica ainda é uma proposta embrionária'
Autor: Denise Chirispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Economia & Negócios, p. B4

Idéia, assim como a do Conselho de Defesa, não saiu do âmbito político, diz Amorim

As propostas de criação de um Conselho de Defesa da América do Sul e de integração das indústrias bélicas do Brasil, da Argentina e da Venezuela ainda são "embrionárias" e não passaram do âmbito político para o técnico, afirmou ontem, para o Estado, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

A idéia para a criação do conselho e a integração surgiu durante o encontro dos presidentes dos três países anteontem, na Granja do Torto. O objetivo das propostas seria a recuperação dos parques industriais desse setor, amparado nas demandas do mercado regional, e a promoção do desenvolvimento tecnológico.

"Cerca de 50% dos gastos em pesquisa e desenvolvimento dos Estados Unidos destinam-se ao setor bélico. Muitas vezes, resultam em projetos civis, como é o caso aqui no Brasil dos aviões da Embraer", disse o chanceler Amorim. "Mas não estamos pretendendo fazer o mesmo uso que eles (os Estados Unidos) fazem. O Conselho não será contra ninguém."

A integração da indústria bélica, explicou o ministro, é uma "idéia entre várias" para a América do Sul e, em um segundo momento, será submetida aos Ministérios da Defesa dos países envolvidos.

A criação do Conselho de Defesa da América do Sul surgiu no meio das discussões dos presidentes sobre a indústria bélica, mas não com o propósito de torná-lo uma 'Otan do Sul', como declarou à imprensa o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao final do encontro com os colegas Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, da Argentina.

"Lá dentro, não se falou em Otan propriamente", disse Amorim. "Talvez o presidente Chávez tenha usado o exemplo da Otan por ser o mais óbvio. Mas, lá dentro, ele se referiu à Junta Interamericana de Defesa", acrescentou, referindo-se ao órgão da Organização dos Estados Americanos.

O chanceler considerou "bastante razoável" a criação do Conselho, o que, em sua avaliação, daria um caráter mais institucional às reuniões periódicas dos ministros da Defesa da América do Sul, aos seus projetos e às iniciativas de combate a ameaças internacionais, como o narcotráfico.

Seria ainda um organismo capaz de coordenar a participação dos países sul-americanos em operações de paz das Nações Unidas. Amorim lembrou que boa parte das tropas da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah) é composta por militares do Brasil e da Argentina.