Título: Camex defende queda de superávit comercial
Autor: Paula Puliti
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Economia & Negócios, p. B3

Para secretário-executivo, importações reduziriam liquidez do dólar e haveria recuo do real

A solução para a desvalorização cambial, que tanto incomoda os empresários, está no aumento das importações. A avaliação é do secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Mario Mugnaini, e foi apresentada ontem aos empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Mugnaini, diretor da Fiesp na gestão Horacio Lafer Piva, disse que o Brasil não precisa de superávits comerciais de US$ 45 bilhões ao ano, como em 2005. Segundo ele, a elevação das importações para US$ 90 bilhões a US$ 95 bilhões (foram US$ 74 bilhões em 2005), por exemplo, acompanhada de exportações de US$ 132 bilhões (estimativa oficial para 2006), vai reduzir a liquidez de dólares no mercado interno e restabelecer o equilíbrio que os exportadores tanto pedem.

Mugnaini ressaltou que é meta do governo elevar para 30% a 35% do Produto Interno Bruto (PIB) a corrente de comércio do Brasil com o mundo. Em 2005, essa relação ficou em 26%, considerando que o PIB será de US$ 650 bilhões. "Isso mostra que temos ainda uma grande capacidade de elevar tanto as exportações quanto as importações", ressaltou.

No dia em que anunciou o resultado da balança comercial de 2005 (2 de janeiro), o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, também defendeu a redução do superávit comercial anual para a casa dos US$ 35 bilhões para melhorar a cotação do dólar, o que poderá ser obtido com aumento das importações neste ano acima dos 20%, e das exportações, entre 11% e 12%.

Odiretor do Departamento de Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, considerou "estranho" o comportamento do Banco Central, que hoje reduziu pela metade, em US$ 200 milhões, a oferta de swap cambial. Na avaliação do empresário, que atua no ramo exportador, a mudança na estratégia da autoridade monetária surpreende, já que o dólar continua em processo de desvalorização. "Caso se configure como estratégia permanente, a diminuição do volume de swap torna o real alvo de uma apreciação ainda maior", afirmou Giannetti ao Estado.

O empresário defendeu a atuação do Banco Central no mercado de câmbio, argumentando que em qualquer país os BCs lançam mão de leilões deswap para amenizar eventuais apreciações das moedas. "Se a autoridade não executar esse papel moderador, a situação do câmbio fica muito mais complicada", ressaltou.

Para Giannetti, a intervenção do BC é fundamental porque a conjuntura econômica só indica que a tendência da moeda é de valorização. "Os juros continuam em alta e as exportações crescem. Esse quadro provoca um descasamento entre os fluxos físico e financeiro e as exportações de US$ 10 bilhões", afirmou, acrescentando que esse descompasso puxa para o alto a cotação do real.