Título: Situação do câmbio poderá mudar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Economia & Negócios, p. B2

As contas externas de 2005 mostraram a melhora da posição cambial do País. O superávit da balança comercial, obtido apesar da valorização do real ante o dólar, permitiu dispor de recursos para aumentar os gastos com serviços e renda, enquanto, paralelamente, incentivou o reembolso antecipado de compromissos externos, ao mesmo tempo que favoreceu a captação de recursos no mercado financeiro internacional e a entrada de capitais estrangeiros nas operações das bolsas de valores.

Um superávit em transações correntes de US$ 14,199 bilhões, o maior da historia do Brasil, com aumento de 21,2% em relação ao ano anterior, esteve na origem da forte elevação do déficit da balança de serviços e renda, que aumentou 35,4%. Com um dólar caindo na paridade com o real, as despesas de viagens internacionais aumentaram 64,4%, enquanto as receitas acusavam crescimento de apenas 19,8%. A cotação do real ante o dólar estimulou as empresas estrangeiras a aumentarem suas remessas de lucros e dividendos em 67,1%, sem falar no aumento da rentabilidade dessas empresas (especialmente as do setor financeiro). Enquanto o saldo da conta de juros ficou bastante estável, registrou-se um forte aumento (89%) do saldo negativo no aluguel de equipamentos.

Poder-se-ia pensar que, com a melhora da situação cambial e a queda do risco Brasil, a conta capital e financeira teria acusado um saldo em elevação. Foi o contrário que se verificou, com um aumento de 20,1% do saldo negativo (US$ 8,8 bilhões). Não houve, na realidade, uma redução da captação de empréstimos, que somou US$ 9,096 bilhões, com a renovação de 94% dos empréstimos vincendo. O saldo negativo teve sua origem na liquidação antecipada do empréstimo do FMI. Sem este, a conta capital e financeira apresentaria superávit de US$ 15 bilhões. Pode-se, no entanto, lamentar que os investimentos estrangeiros diretos (IED) foram de apenas US$ 15 bilhões, ante US$ 18 bilhões em 2004. Isso se deve a uma série de fatores, entre os quais o custo elevado do crédito interno e o clima de insegurança regulatória e legal.

Há anos se diz que um país emergente deve apresentar um déficit em conta corrente, forçando assim um financiamento externo. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), o Brasil caminha a médio prazo para 2% a 2,5% do PIB de déficit. A apreciação contínua do real e a decisão do BC de reduzir as operações de swap acentuam essa apreciação, dificultando as exportações e estimulando as importações. Mas não se está criando um clima favorável aos IED. O problema é de saber controlar essa mudança da posição cambial.