Título: BC muda tática e dólar cai 2,15%
Autor: Cristina Canas , Silvana Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

Redução pela metade na oferta de contratos de swap derruba cotação da moeda, que fecha em R$ 2,278

Numa atitude que os operadores consideraram "radical", o Banco Central (BC) provocou ontem uma queda de 2,15% na cotação do dólar ao reduzir pela metade, em US$ 200 milhões, a oferta dos contratos de swap cambial. Trata-se de uma operação em que o BC compra dólar no mercado futuro, mas acaba interferindo na cotação da moeda no mercado à vista, porque é o mercado futuro que baliza a cotação à vista por causa da concentração de liquidez.

No início da manhã, com um recuo de 2,58%, o dólar foi a R$ 2,268 e atingiu a mínima de R$ 2,267, numa queda de 2,62%. No leilão de swap reverso, o BC vendeu a oferta integral de US$ 201,5 milhões em contratos. As cotações à vista só não caíram mais no fechamento, segundo operadores, por causa da disparada do preço do petróleo no exterior. Em Nova York, o petróleo para fevereiro subia 2,27%, para US$ 68,35 o barril. Com isso, o dólar à vista fechou em baixa de 2,15%, cotado a R$ 2,278, após altas de 2,38% nos três dias anteriores. Foi a maior queda da moeda americana desde 22 de agosto.

Como o Banco Central já anunciou que vai repetir na segunda-feira a oferta de mais US$ 200 milhões em swap, a expectativa entre os operadores é de que o dólar continue em baixa. Principalmente se o petróleo der uma folga na escalada recente.

Os economistas do governo não quiseram comentar as expectativas de operadores de que essa mudança de atitude do BC está indicando a opção por um mix equilibrado entre câmbio e taxas de juros para conter a inflação. "Sobre câmbio não falamos. O mercado é flutuante", disse um técnico.

O fato é que a ação do BC surpreendeu o mercado porque, desde novembro, o banco vem atuando "com apetite" no mercado futuro e, desde de outubro, compra moeda no mercado à vista.

Os operadores, no entanto, insistem na avaliação de que a decisão do BC é uma estratégia de política monetária. O objetivo seria enfraquecer o dólar para evitar pressões sobre os preços e a inflação e, dessa forma, permitir a continuidade dos cortes da taxa Selic para estimular a atividade econômica.

Embora ainda haja dúvidas sobre se a mudança da linha de ação do BC no câmbio é permanente, a redução do volume de swap já acendeu a luz amarela para os exportadores. O diretor do Departamento de Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, considerou "estranho" o comportamento do banco.

Na avaliação do empresário, que atua no ramo exportador, a mudança surpreende, já que o dólar continua em desvalorização. "Caso se configure como estratégia permanente, a diminuição do volume de swap torna o real alvo de valorização ainda maior", afirmou.