Título: Faltam anti-retrovirais nos postos
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Vida&, p. A22

Estoques de remédios voltam a cair; São Paulo remaneja e fraciona distribuição para driblar escassez

Medicamentos do coquetel antiaids voltam a escassear nos postos de atendimento públicos. Em São Paulo, onde se concentram mais de 50% dos soropositivos, os estoques dos medicamentos Biovir e Amprenavir foram reduzidos de forma significativa e somente nos últimos dias a situação se normalizou, informa o Centro de Referência e Treinamento de Aids de São Paulo. Tenofovir, por sua vez, passou a ser fracionado. Os remédios são comprados pelo Ministério da Saúde.

As denúncias de falta da droga foram feitas por Regina Pedrosa, do Conselho Municipal de Saúde. Segundo ela, serviços da capital enfrentavam ainda falta de testes para exames de carga viral. Em Ribeirão Preto, a farmácia do Hospital das Clínicas informou ontem que o estoque de Saquinavir está zerado desde 9 de janeiro e não há informação de novas remessas.

"Por enquanto, não há notícias formais de falta dos kits", afirmou o diretor-adjunto do CRT-Aids, Artur Kalichman. Ele também disse não ter conhecimento da falta do Saquinavir. "Tivemos problemas com Biovir e Amprenavir, mas agora a situação já está normalizada."

Na tentativa de cobrir falhas do abastecimento, o programa estadual remanejou medicamentos de uma região para outra e fez a entrega fracionada. O diretor adjunto conta que esse tipo de manobra tem sido constante. "Nos últimos dois anos, vivemos apagando incêndios. Remanejando remédios, reduzindo o lote a ser distribuído", desabafa. "O que deveria ser exceção, tornou-se regra." Como exemplo, ele cita as entregas do ministério feitas para o Estado no período de novembro e dezembro de 2005: ao todo, foram 23. Essa "pulverização" das entregas pelo Ministério provoca um efeito cascata.

Estados também têm de mobilizar suas equipes para fazer operações mais freqüentes e, geralmente, de forma emergencial, para garantir que remédios não faltem nos estoques. Pacientes, por sua vez, se antes iam ao posto uma vez por mês, agora têm de ir duas ou três. Em cada visita, pegam número menor de remédios. "Além do stress desnecessário para o paciente, eles acabam gastando mais com transporte", afirma Kalichman. Segundo o presidente do Fórum ONG/Aids de São Paulo, Américo Nunes Neto, desde o início de janeiro o Fórum recebe indicativos da falta de anti-retrovirais.

A compra dos medicamentos é feita por um setor do Ministério da Saúde, a partir de uma programação feita pelo Programa Nacional de DST-Aids. Batizado de CGRL, o setor é encarregado das licitações e da distribuição de remédios e insumos usados em vários programas do ministério. "Até 2003, as entregas eram feitas de forma constante", diz Kalichman.

O diretor da CGRL, Luiz Klasman, reconhece os problemas mas afirma que a situação é fruto de uma combinação de fatores: compra de uma diversidade maior de anti-retrovirais, aumento do número de pacientes e incapacidade de fabricantes atenderem a demanda brasileira em apenas uma entrega.