Título: O brasileiro na retaguarda das eleições palestinas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Internacional, p. A18

Consultor é contratado para tentar convencer o Ocidente de que o grupo não é fanático

As eleições legislativas palestinas da quarta-feira, as primeiras em dez anos, terão um toque brasileiro. O mineiro Paulo Sérgio Siqueira, de 49 anos, é o único estrangeiro enviado pela ONU à Comissão Central Eleitoral em Ramallah, na Cisjordânia, para ajudar na organização técnica do pleito.

Especialista em tecnologia da informação, Siqueira já atuou como consultor em diversas eleições, entre elas a do Timor Leste, em 2003. Mas é agora que enfrenta seu maior desafio: coordenar a realização de uma eleição numa das regiões mais conturbadas do planeta. A votação começa, na prática, hoje, quando milhares de policiais vão às urnas. Eles têm três dias para votar livremente para que, na quarta-feira, se concentrem na segurança do restante do eleitorado.

O brasileiro chegou a Ramallah em maio com a incumbência de criar o sistema de registro de eleitores e de candidatos da Autoridade Palestina (AP). Não foi uma tarefa fácil. São mais de 800 candidatos e exatos 1.273.794 eleitores cadastrados (85% dos adultos com direito de voto). Tudo isso em meio ao caos político e à crise de segurança que torna a vida nos territórios palestinos mais do que complicada.

"Os palestinos têm boa formação técnica, mas falta a eles experiência em eleições", conta Siqueira. Segundo ele, não há lugar para vacilos quando se trata de uma votação tão importante, que pode ditar o futuro da AP. Qualquer problema no sistema e a precisão do pleito pode ser contestada - principalmente por candidatos que se sintam prejudicados. O que tem tudo para ser uma festa democrática pode se transformar num evento violento.

"Não me sinto ameaçado em Ramallah. Aqui tem instabilidade política, mas não vejo a violência urbana diária de São Paulo ou do Rio de Janeiro", diz. Apesar da sensação de segurança, o brasileiro admite que já passou por situações, digamos, desagradáveis.

Uma vez, andando pela rua, presenciou um seqüestro à plena luz do dia. Isso sem contar o dia em que militantes mascarados invadiram um centro eleitoral e, com medo, a Comissão Central Eleitoral deu folga compulsória a todos os funcionários. Apesar desses episódios, Siqueira diz que vai continuar na sua missão.