Título: Hamas quer mudar imagem
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Internacional, p. A18

Consultor é contratado para tentar convencer o Ocidente de que o grupo não é fanático

O Hamas está pagando US$ 180 mil a um consultor para convencer os europeus e americanos de que não é um grupo de religiosos fanáticos que adora atentados suicidas e odeia os judeus.

A organização, também conhecida como Movimento de Resistência Islâmica, contratou o assessor de mídia Nashat Aqtash para melhorar sua imagem em casa e no exterior porque espera surgir como uma grande força política na eleição geral palestina, na próxima semana, e quer reconhecimento e aceitação dos EUA e da União Européia.

"O Hamas tem um problema de imagem", disse Aqtash, professor de comunicação na Universidade Birzeit, em Ramallah. "Os israelenses conseguiram criar uma imagem bem ruim dos palestinos em geral, dos muçulmanos e do Hamas em particular. Meu trabalho é projetar a imagem certa." "Não precisamos que a comunidade internacional aceite a ideologia do Hamas, e sim que aceite os fatos concretos", afirmou o consultor.

"Não estamos matando pessoas porque adoramos matar. As pessoas acham que o Hamas adora provocar a morte. Não amamos a morte, gostamos da vida." Aqtash, que se diz contrário à violência e acredita "no caminho de Gandhi", aconselhou os líderes do Hamas a mudar sua imagem explicando que não odeiam os israelenses por eles serem judeus. E ele tenta convencer estrangeiros influentes de que o Hamas é uma organização pacífica forçada a lutar, mas agora está comprometida com a promoção de sua causa pela política, não pela violência. "O Hamas não acredita na violência nem na morte de civis. Mas (o primeiro-ministro) Ariel Sharon tomou providências para deixar as pessoas furiosas. Às vezes somos inocentes a ponto de reagir de modo a permitir que os israelenses usem a reação contra nós", declarou.

Aqtash afirmou que vai conversar na semana que vem com o ex-presidente americano Jimmy Carter, o ex-primeiro-ministro sueco Carl Bildt e outros estrangeiros proeminentes que vão monitorar a eleição. Ele reconhece, no entanto, que sua pequena equipe, trabalhando num escritório em Ramallah, tem uma missão difícil pela frente. O Hamas é responsável por numerosos ataques suicidas que mataram e mutilaram centenas de civis, muitos deles crianças. O estatuto de fundação do Hamas pede a destruição de Israel e a imposição de um Estado islâmico em todo o território palestino.

Aqtash, que diz não ser membro do Hamas e não saber onde o grupo obteve o dinheiro para pagá-lo - mas freqüentemente refere-se à organização usando o pronome "nós" -, contou ter aconselhado os líderes a mudar sua retórica. Ele afirma que o Hamas nada ganha comemorando os atentados suicidas e aconselha os líderes a não falar sobre a destruição de Israel.

"Abdel Aziz Rantissi (líder do Hamas morto há dois anos por Israel) aparecia na TV dizendo coisas inaceitáveis como 'vamos riscar Israel do mapa'", afirmou Aqtash. "Ele deveria ter falado sobre o sofrimento palestino. Deveria ter dito que precisávamos do fim desta ocupação. Os estrangeiros vão aceitar isso." Aqtash também aconselhou os líderes do Hamas a sublinhar que não são anti-semitas ou contra os israelenses por eles serem judeus. O grupo escutou. Numa entrevista nesta semana, Muhammad Abu Teir, segundo na lista eleitoral do Hamas, ofereceu duas vezes garantias de que não odeia os judeus: "Amar os outros é parte de nossa religião. Não somos contra os judeus enquanto judeus, somos contra a opressão."

O Hamas está empatado com a facção governista Fatah nas intenções de voto. Segundo pesquisa divulgada ontem, o Hamas tem 30% das intenções de voto e a Fatah, 32%.