Título: Irã retira bilhões de euros de bancos europeus
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Internacional, p. A16

Para analistas, decisão é evidência de que Teerã teme sanções da ONU

O Irã, que corre o risco de enfrentar sanções econômicas da ONU por causa de seu programa nuclear, começou a transferir os fundos que possui em contas na Europa, disse ontem o diretor do Banco Central iraniano, Ebrahim Sheibani à agência de notícias Isna. Analistas estimam que as transferências podem chegar a 40 bilhões.

O Irã tem uma amarga lembrança de quando seus bens foram congelados nos Estados Unidos pouco depois da Revolução Islâmica de 1979, após a tomada da Embaixada americana em Teerã.

"Transferiremos reservas internacionais a qualquer parte que considerarmos convenientes", disse Sheibani, esquivando-se da pergunta sobre se o dinheiro estava sendo transferido para bancos asiáticos. Os bancos suíços aceitariam receber os depósitos iranianos, disse ontem em Genebra um representante das instituições financeiras. A companhia Naftiran Intertrade Company, o poderoso braço comercial e financeiro da Companhia Nacional de Petróleo do Irã, tem sede na Suíça.

A maioria dos analistas considera a medida como uma evidência de que o Irã teme sofrer sanções da ONU por causa de sua criticada decisão de retomar suas pesquisas sobre enriquecimento de urânio. Durante a semana, o governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, havia declarado que acreditava no fracasso dos esforços dos Estados Unidos e dos países europeus para levar seu caso ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Sheibani não quis revelar qual o valor que será transferido. Mas três diferentes analistas, que não quiseram ser identificados, estimaram que o valor estaria entre 30 bilhões e 40 bilhões. O Irã é o quarto exportador mundial de petróleo e o segundo maior da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Cerca de 80% de seus rendimentos em exportações provêm do petróleo, cujo preço subiu muito nos últimos anos. As exportações entre março de 2005 e março deste ano devem exceder US$ 40 bilhões (quase 33 bilhões).

O mercado financeiro reagiu nervosamente à incerteza sobre os depósitos do Irã no exterior, levando a um aumento no preço do barril do petróleo para US$ 67.

A junta de governadores, de 35 membros, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) se reunirá no dia 2 - a pedido dos EUA, Alemanha, França e Grã-Bretanha - para decidir se leva o caso do programa nuclear do Irã ao Conselho de Segurança da ONU. China e Rússia, países que mantêm interesses comerciais com o Irã, devem se abster na votação da AIEA, mas podem usar seu poder de veto para bloquear medidas contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU.

Ansioso para demonstrar sua neutralidade no caso, o diretor da AIEA, Mohammed el-Baradei rejeitou ontem uma pressão da União Européia para apressar o relatório sobre as atividades nucleares do Irã e concluí-lo a tempo para a reunião extraordinária da junta de governadores.

Diplomatas ligados à AIEA afirmaram que Baradei acha prematura a pressão ocidental para levar o Irã ao Conselho de Segurança. Eles disseram que Baradei prometeu aos iranianos que eles terão um prazo até a próxima reunião regular da junta, em 6 de março, para atender às demandas de um maior acesso às suas instalações nucleares e a documentos sobre o programa.