Título: Xiitas terão de formar aliança
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Internacional, p. A16

Eles obtiveram 128 das 275 cadeiras do Parlamento, sem chegar aos 2/3 necessários para governar sozinhos

A coalizão de partidos muçulmanos xiitas conquistou 128 das 275 cadeiras do Parlamento do Iraque nas eleições de 15 de dezembro, mas não a maioria absoluta para governar sozinha. A Aliança Unida Iraquiana obteve 18 cadeiras a menos que as que tinha na Assembléia interina. Os resultados, divulgados ontem pela Comissão Eleitoral, indicam que os partidos religiosos xiitas serão a força dominante no novo governo, mas precisarão de apoio para formar uma coalizão.

A aliança de partidos curdos foi o segundo bloco mais votado e conquistou 53 cadeiras. Com os curdos, os xiitas vinham governando o Iraque desde as eleições de janeiro de 2005.

A maior coalizão sunita, a Frente da Concórdia Iraquiana, obteve 44 cadeiras e um partido sunita que não se alinhou com ninguém, a Frente Iraquiana para o Diálogo Nacional, 11. Os partidos sunitas terão maior representação no atual Parlamento que no antigo, onde tinham só 17 cadeiras, por causa do boicote sunitas às eleições de janeiro de 2005.

A Lista Nacional Iraquiana, que reúne xiitas leigos e sunitas liberais e é liderada pelo ex-primeiro-ministro Iyad Allawi, será a quarta força da Assembléia, com 25 cadeiras. A União Islâmica do Curdistão, que representa os integristas curdos, conquistou cinco cadeiras. Os nove assentos restantes foram distribuídos entre partidos minoritários.

O antigo aliado dos EUA Ahmad Chalabi, que havia sido o preferido de muitos funcionários americanos para ser o novo líder do Iraque, não conseguiu conquistar uma cadeira.

Os xiitas e curdos têm, juntos, três cadeiras a menos que os dois terços do Parlamento necessários para formar um governo.

Os políticos xiitas e curdos já anunciaram sua disposição de formar um governo de união nacional que inclua os sunitas.

"As portas estão abertas e ninguém quer confrontá-los, prejudicá-los ou privá-los de sua legitimidade e direitos constitucionais", disse Abdul Aziz al-Hakim, líder do maior partido xiita. "Eles são nossos irmãos e terão seus direitos."

Enquanto os xiitas na cidade sagrada de Najaf festejavam o resultado das eleições, 150 quilômetros ao norte rebeldes atacavam duas bases dos EUA no reduto sunita de Ramadi. As respostas contrastantes à divulgação do resultado eleitoral ilustram o desafio que o governo enfrentará para conter a profunda divisão sectária no Iraque entre a maioria xiita e a minoria sunita - que governou o país durante o regime de Saddam Hussein. Os xiitas representam 60% da população, estimada em 27 milhões, os sunitas, 20% e os curdos, 15%.

Os sunitas insistem em que foram vítimas de uma grande fraude eleitoral cometida pelos xiitas e curdos, apesar de os monitores internacionais terem qualificado as eleições de limpas. Mas os sunitas disseram que, apesar de sua insatisfação com relação às eleições, participarão das negociações para formar um governo.

Em uma declaração na TV, o general americano Thomas R. Turner, comandante da 101.ª Divisão Aerotransportada do Exército dos EUA, disse que o progresso na frente política pode levar a uma redução da violência. "Acho que veremos menos sunitas apoiando os terroristas e os combatentes estrangeiros", disse.

No entanto, a violência não dava sinais ontem de diminuir. Pelo menos 12 pessoas morreram em vários ataques a bomba ou a tiros em várias partes do país, principalmente em Bagdá e na cidade xiita de Kerbala.