Título: PF fere 9 índios em confronto ao desocupar área em Aracruz
Autor: Felipe Werneck
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Nacional, p. A16

Operação, autorizada pela justiça, teve balas de borracha e vôos rasantes de helicópteros

Pelo menos nove índios ficaram feridos ontem em confronto com policiais federais no município de Aracruz, no norte do Espírito Santo. A Superintendência Regional da PF informou que 120 homens - incluindo um destacamento do Comando de Operações Táticas, de Brasília - promoveram a desocupação de duas áreas em cumprimento a mandado de reintegração de posse expedido pela Justiça Federal do Estado em favor da Aracruz Celulose.

De acordo com a PF, os policiais "foram forçados a desferirem tiros de borracha e bombas de efeito moral, como último recurso de defesa pessoal". Para o coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) José Coelho Silva, "houve truculência na ação policial". Segundo ele, os índios foram pegos de surpresa. "Os policiais chegaram atirando com balas de borracha e atearam fogo nas aldeias." Um helicóptero da PF equipado com metralhadora fez vôos rasantes nas aldeias.

De acordo com a PF, a desocupação "transcorreu de forma pacífica e sem nenhum incidente" na Aldeia Ouro, mas uma segunda equipe de policiais foi surpreendida na Aldeia Olho d'Água "pela vinda de aproximadamente 200 índios de aldeias próximas". "Esses outros indígenas já chegaram armados de tacapes, flechas e pedras, que foram lançados contra os agentes e delegados, além de danificarem oito viaturas oficiais", afirmou a PF, por meio de nota. Ainda segundo a PF, nenhum índio foi detido, mas dois responderão a "termo circunstanciado" pelos crimes de dano e de resistência. Mas o coordenador regional do Cimi afirmou que o tupiniquim Paulo Henrique está preso.

"Esse tipo de operação vai de encontro com a recente declaração do presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) de que temos muita terra para pouco índio", declarou o coordenador do Cimi. A reportagem não localizou o responsável pela administração regional da Funai. Equipes de saúde teriam sido impedidas de entrar na área para atender os feridos.

A desocupação durou cerca de 3 horas. Tupiniquins e guaranis de Aracruz tiveram de deixar uma área de 11,9 mil hectares. As terras estavam ocupadas desde maio de 2005. A liminar foi expedida pela Justiça Federal em 7 de dezembro. Com a reintegração, os índios voltaram para aldeias localizadas na região de Comboios.

Caciques planejavam ontem realizar um protesto contra a Aracruz Celulose, com a interdição de estradas que passam pelas aldeias. A empresa não comentou o resultado da ação policial.