Título: Família Daniel apela ao PT e a Lula: 'Voltem às origens, empreguem a ética'
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Nacional, p. A14

Da família de Celso Daniel, prefeito do PT executado à bala em 20 de janeiro de 2002, para a cúpula do partido e o presidente Lula: "Voltem às suas origens, empreguem nas suas ações a ética que sempre pregaram", apelou Bruno Daniel Filho, irmão mais novo de Celso.

Professor universitário, 53 anos, Bruno falou ontem em nome da família, antes da celebração da missa na Igreja do Carmo pelos quatro anos da morte do prefeito, ainda cercada de mistérios e desencontros. O apelo, ele enfatizou, "serve para todos os que ajudam a obstruir a busca da verdade, que colocam algum empecilho, serve para ele (Lula) também".

À sombra de uma árvore no quintal de sua casa em Santo André - de onde está se mudando porque tem medo de ter o mesmo fim do irmão -, Bruno afirmou: "Celso foi vítima de queima de arquivo." Suspeita que o prefeito foi eliminado porque estava montando um dossiê e tomando medidas contra a corrupção que se alastrou em sua própria administração.

Bruno fez um relato sobre as investigações, apontou as dúvidas que angustiam a ele e aos outros irmãos, recriminou as "instituições precárias deste país" - excetuando desse quadro o Ministério Público e a unidade policial agora encarregada do caso - e denunciou quem deu as costas para os Daniel. "O PT não tem colaborado para a busca da verdade."

Não é uma família com sede de vingança, mas de Justiça. "Não vamos sossegar enquanto a morte do Celso não for completamente esclarecida e os culpados, punidos", desabafou Bruno. Não afasta nenhuma hipótese e nenhum nome, nem mesmo o do ex-presidente do PT. "José Dirceu pode estar envolvido? Não sei, porque não sei quais são as conexões dessa história." Bruno e seu irmão mais velho, João Francisco, revelaram à promotoria e à CPI dos Bingos que Gilberto Carvalho, assessor especial de Lula, teria dito a eles que Dirceu era o destinatário de dinheiro da corrupção em Santo André.

Os Daniel vivem sob proteção policial. "Coisas estranhas estão ocorrendo", conta Bruno. Telefonemas ameaçadores e até o seqüestro relâmpago de uma pessoa próxima fazem aumentar o terror na família. Bruno e João Francisco não foram à missa, no início da noite. Alegaram "fatos inesperados".