Título: Governo promete ajudar CPI a rastrear contas de Duda
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Nacional, p. A13

Itamaraty entrará em contato com autoridades dos EUA para viabilizar ida da comissão a Nova York e Miami

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o chanceler Celso Amorim se comprometeram ontem a ajudar a CPI dos Correios a aprofundar as investigações sobre as contas do publicitário Duda Mendonça no exterior. Na mais incisiva ação para rastrear a movimentação financeira do publicitário e acabar com as dificuldades de acesso à documentação, o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), recorreu ao governo e ouviu dos dois ministros a promessa de que, até o final do mês, parlamentares da comissão estarão nos Estados Unidos para buscar informações.

Desde agosto, quando Duda surpreendeu a CPI ao revelar que abrira uma conta no exterior para receber o pagamento dos serviços prestados à campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, a comissão tenta enviar uma equipe aos EUA. A viagem de parlamentares já foi anunciada diversas vezes, mas nunca concretizada. "Não queremos criar constrangimentos às autoridades e vamos fazer tudo o que a diplomacia determinar", disse Delcídio, após o encontro com os ministros no Itamaraty. "Precisamos compatibilizar os dados das contas de Duda."

O roteiro e o esquema de trabalho dos parlamentares ainda serão definidos pelas autoridades dos dois países. No encontro ficou decidido que, na segunda-feira, o Itamaraty vai agendar conversa telefônica entre Bastos e Alberto Gonzalez, equivalente ao ministro da Justiça nos EUA, para acertar a visita dos políticos. Ainda não está decidido quem assumirá o comando do grupo: se Delcídio ou o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). O senador disse, contudo, que dois parlamentares, um da oposição e outro da base governista, estarão na comitiva. A idéia é visitar Miami e Nova York.

As investigações sobre a movimentação financeira de Duda estão atrasadas, bem como a situação dos fundos de pensão. São dois temas delicados que a CPI está tratando de forma cuidadosa para evitar dúvidas no relatório. Ao mesmo tempo em que negocia com o governo o acesso às contas do publicitário, Delcídio Amaral começou também a costurar apoio político, tanto da oposição quanto do governo, ao relatório final da CPI, que será apresentado entre 15 e 20 de março.

Nos últimos dias, ele se reuniu com os presidentes do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). Aos tucanos, Delcídio informou que o caso do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) será incluído no relatório final, uma vez que o esquema do empresário Marcos Valério foi usado pela primeira vez em 1998 para financiar sua campanha à reeleição ao governo de Minas. Ou seja, todos os partidos estarão envolvidos no relatório final. É intenção da CPI pedir o indiciamento de Eduardo Azeredo, mas Delcídio prefere não antecipar os termos do relatório.

Além da oposição, o presidente da CPI conversou também com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e com outros parlamentares do PT. O objetivo é evitar que o PT apresente relatório paralelo ao de Osmar Serraglio, tentando minimizar os efeitos das acusações contra o PT e o governo.