Título: Ministra tem planos vagos para a Justiça
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2006, Internacional, p. A17

A eleição de Evo Morales, o primeiro presidente indígena da Bolívia, em dezembro, teve alta dose de simbolismo num país em que a elite econômica e política sempre foi majoritariamente branca. Na segunda-feira, mais um passo foi dado com a nomeação de Casimira Rodríguez para ocupar o cargo de ministra da Justiça. A presença de uma mulher humilde e mestiça numa pasta importante do governo não deixou dúvidas a respeito da ruptura racial em curso na classe dirigente.

Casimira nasceu em Mizque, uma cidade pobre próxima a Cochabamba. Aos 13 anos, começou a trabalhar como empregada na casa de uma família de classe média. Foi abusada mental e sexualmente, persistiu e chegou à direção do sindicato das empregadas domésticas da Bolívia. Fez campanha pela criação de uma lei para proteger as domésticas e, em 2003, obteve sucesso com a promulgação de regras sobre, entre coisas, horário de trabalho e seguro médico.

Embora esteja familiarizada com o dia-a-dia dos sindicatos de trabalhadores, Casimira, solteira e sem filhos, não faz muita idéia de como funciona a máquina estatal. No seu primeiro dia de trabalho, Casimira conversou com o Estado pelo telefone, mas não quis falar sobre os seus planos à frente da pasta da Justiça. "Ainda preciso compreender como funciona a estrutura do ministério".

O convite do presidente Morales foi recebido com total surpresa por ela. "Nas últimas semanas, eu e minhas colegas brincávamos que eu seria chamada pelo novo governo, mas era pura brincadeira". Embora não tenha claro ainda um plano de ação, a nova ministra já decidiu que tratará da questão do racismo.

Casimira vê na sua ascensão um gesto claro contra o preconceito que as pessoas de origem indígena são vítimas em toda a Bolívia. Caso fracasse nesse e nos demais pontos que comporão seu plano de metas, Casimira corre é o risco de aumentar o preconceito.