Título: EUA reiteram disposição de trabalhar com o novo líder
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2006, Internacional, p. A17

O governo americano reiterou ontem seu desejo de trabalhar com o governo do presidente Evo Morales e com outros líderes democraticamente eleitos do continente, pouco importando sua inclinação partidária. Mas indicou, ao mesmo tempo, os parâmetros de um bom relacionamento e deixou claro que a decisão sobre a qualidade do diálogo entre La Paz e Washington dependerá das escolhas que o novo presidente boliviano fizer nos próximos meses.

"O que é importante, independentemente de você ser de esquerda, de centro ou de direita, é como você governa", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McComarck. "Uma vez eleitos, os políticos precisam governar democraticamente. Isso é o mais importante para trabalharmos com esses governos - que eles aceitem os princípios democráticos, governem de uma maneira que reflita a vontade de seus povos por uma vida melhor, trabalhem para trazer prosperidade a seus povos por meio da expansão das oportunidades de comércio, de negócios, e (trabalhem) com governos com os quais terão um conjunto de interesses comuns."

McComarck enfatizou, no entanto, que "as decisões sobre como eles governarão caberão a eles, nós não vamos ditar um programa aos países da região ou aos governos da região". O porta-voz lembrou que o secretário de Estado adjunto para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, disse tudo isso pessoalmente a Morales, no encontro que tiveram no sábado à noite, e comunicou a disposição americana de manter os programas de cooperação que tem hoje com a Bolívia.

A ajuda americana, que inclui tanto a assistência ao desenvolvimento como o programa de cooperação militar conectado ao combate ao narcotráfico, representa cerca de US$ 150 milhões. Além disso, o governo anterior fez um pedido de US$ 598 milhões à Corporação do Desafio do Milênio, uma nova agência que a administração Bush criou para dar ajuda internacional condicionada. Na balança, há também cerca de US$ 1 bilhão em créditos pendentes para a Bolívia no Banco Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento, sobre os quais a posição americana tem peso considerável.

Além disso, os produtos bolivianos têm acesso preferencial ao mercado dos EUA sob um dispositivo que vale para todos os países andinos até dezembro deste ano e está sendo substituído por um novo acordo sub-regional de comércio, que Washington já assinou com o Peru e está finalizando com a Colômbia e o Equador. "Retórica à parte, Morales terá que decidir nos próximos meses se a Bolívia tem interesse em entrar para este novo acordo andino, pois esta é a única maneira de ver renovadas as concessões comerciais que tem hoje", disse um fonte diplomática da região.

Antes de quaisquer conversas sobre ajuda externa ou questões comerciais, um tema deverá orientar a avaliação de Washington sobre o novo governo da Bolívia: o cultivo de coca, que o ex-cocaleiro Morales quer regularizar e Washington quer ver limitado, se não erradicado. De acordo com fontes bem informadas, os EUA aceitam, como base para começar a conversa sobre o tema, a elaboração de um estudo, por entidade internacional de credibilidade reconhecida, sobre o volume de produção de coca necessário para atender à demanda dos usos tradicionais do produto no país.