Título: Câmara tenta, com aval do Planalto, liberar alianças
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2006, Nacional, p. A10

A Câmara vota hoje, em primeiro turno, a proposta de emenda constitucional que acaba com a chamada verticalização e libera as alianças políticas para eleger os governadores independentemente da coligação formada pelos partidos na disputa pela Presidência. A questão coloca o PT contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O partido defende a manutenção da verticalização, mas Lula trabalha para que a mudança seja aprovada.

"Eu disse ao presidente que não se pode mudar a regra durante o jogo", disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Embora a votação estivesse prevista para 2 de fevereiro, os líderes partidários fecharam um acordo para antecipar a decisão, à revelia do PT, que tentou em vão adiar o exame da proposta. Até o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), aposta que a emenda será aprovada.

O fim da verticalização é considerado fundamental para a sobrevivência dos pequenos partidos, sejam aliados do governo como o PSB e o PC do B, ou de oposição como o PPS. A tarefa de aprovar a emenda ficou mais fácil depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva liberou os aliados para votar como quiserem.

"Não sou simpático à tese da verticalização das coligações porque não creio em aliança forçada", disse o presidente aos líderes, segundo relato de Chinaglia. Na conversa, Lula ponderou que a exigência legal muitas vezes não é cumprida na prática e, por isso mesmo, prefere "uma relação mais clara" com os partidos. "Imposição legal não garante lealdade", insistiu o presidente.

Na eleição de 2002, o PT se beneficiou da dissidência em partidos adversários. Embora o PMDB participasse da chapa do tucano José Serra, tendo indicado a deputada Rita Camata (ES) candidata a vice-presidente, isso não impediu que peemedebistas de vários Estados abrissem seu palanque ao PT e declarassem voto em Lula. No segundo turno, diretórios do PMDB de 15 Estados fecharam com a candidatura de Lula, em uma aliança branca.

"Que cada um faça sua escolha. Quem tiver de ficar com o governo que fique; quem não tiver, tudo bem. O PMDB pode tomar rumo e continuaremos amigos", disse o presidente aos líderes. Não foi por acaso a referência nominal ao PMDB. Integrantes das várias alas do partido trabalharam para derrubar a verticalização.

SEM CONSTRANGIMENTO

Independentemente do recado de Lula aos líderes, o PT decidiu votar contra a emenda, sem constrangimentos. "O presidente disse que pessoalmente era favorável à derrubada da emenda, mas que quem decide é o Congresso", resumiu o líder petista em exercício, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Ele vai orientar os petistas a rejeitarem a emenda, por decisão majoritária da bancada.

Assim como os petistas, o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), também é favorável à verticalização, "para manter o mínimo de coerência entre o que se faz no plano nacional e nos Estados". Mas não criou dificuldades à votação da emenda hoje. Goldman reconhece que sua bancada está dividida em relação ao tema e vai liberar o voto em plenário.