Título: Agronegócio embala a produção de trens
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2006, Economia & Negócios, p. B6

Setor bate recorde e cresce 66% em 2005 com a fabricação de 7.500 vagões, ante seis em 1991

A indústria ferroviária está a pleno vapor: bateu todos os recordes de produção de vagões nos últimos anos e retomou a fabricação de locomotivas no País. Tudo isso impulsionado pela demanda crescente do transporte de cargas via estrada de ferro, que incentivou a abertura de fábricas de equipamentos e a reativação de unidades antigas, como Cobrasma, Santa Matilde, Mafersa e FNV.

Em 2005, as ferrovias foram responsáveis por mais de 400 milhões de toneladas de carga transportada no Brasil, o que aumentou a demanda por vagões, seja por parte das concessionárias ou por empresas que dependem dos trilhos para levar suas mercadorias até os grandes portos. Segundo o diretor da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça, a perspectiva é que a produtividade mantenha o ritmo de crescimento de 10% ao ano até 2010.

Isso deve manter aquecida a indústria ferroviária, cuja produção de vagões no ano passado cresceu 66% e atingiu 7.500 unidades - número recorde. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Luis Cesário da Silveira, o maior volume de produção ocorreu em 1975 - época de ouro do setor.

De lá pra cá, a indústria ferroviária mergulhou num ciclo de altos e baixos. Na década de 80, conseguiu segurar a produção na casa dos mil vagões por ano, número reduzido a 200 ou 300 unidades nos anos 90. Em 1991, a indústria fabricou apenas seis vagões. Mas, com a privatização das concessionárias, no final da década, a indústria se recuperou.

O bom desempenho do setor deve-se mais ao sucesso das exportações, especialmente as de produtos agrícolas. De olho nesse movimento crescente, algumas empresas reativaram indústrias que fizeram história. Uma das primeiras foi a Cobrasma, de Osasco, restabelecida pela Amsted Maxion, do Grupo Iochpe Maxion. Hoje a companhia tem mais duas plantas: a outra unidade da Cobrasma, em Hortolândia, e a antiga fábrica da FNV, em Cruzeiro, ambas em São Paulo.

Outra que teve o fôlego renovado foi a Santa Matilde, que encerrou suas atividades com a falta de encomendas do setor ferroviário. Em 1991, os funcionários da empresa falida decidiram formar a Cooperativa Mineira de Equipamentos Ferroviários (Coomefer) para fabricar componentes para vagões.

A linha de produção do vagão somente surgiu em 2003. Hoje, além de fabricarem, os trabalhadores recuperam equipamentos antigos. A fábrica tem capacidade para produzir até 120 vagões por mês, afirmou o presidente da Coomefer, instalada em Conselheiro Lafaiete (MG), Edmundo do Nascimento. No ano passado foram produzidos 480 vagões e recuperadas 2.500 unidades.

Além da reativação de unidades antigas, novas fábricas foram instaladas. Entre as companhias que apostaram no setor ferroviário está a Randon, fabricante de veículos especiais e autopeças. Segundo o diretor executivo Norberto Fabris, o crescimento do setor ferroviário chamou a atenção da empresa, que já colocou cerca de 600 vagões no mercado nos dois primeiros anos de produção. Entre agosto e setembro, outras 650 unidades serão entregues.

A empresa se especializou na produção de vagões graneleiros e tem capacidade para produzir até cinco por dia. Mas como o setor está aquecido e os resultados têm sido satisfatórios, a Randon decidiu ampliar a produção, construindo um novo pavilhão de 11.200 m2. Com isso, além dos vagões graneleiros, a empresa também vai fabricar tanques ferroviários para o transporte de óleos vegetais e combustíveis. A expectativa é alcançar cerca de mil unidades por ano.

Outra fábrica importante é a Santa Fé, da América Latina Logística (ALL) em parceria com o Grupo Besco, instalada em Santa Maria (RS). "Vimos que a demanda por vagões estava crescendo e basicamente só havia uma empresa para atender o mercado, a Maxion", afirmou o gerente financeiro da ALL, Carlos Augusto Moreira. A fábrica, que começou a funcionar em dezembro, já tem encomendas de 150 unidades para este ano. O projeto para a construção da fábrica começou em 2003.

Na esteira do sucesso do setor ferroviário, empresas de porte como a Usiminas Mecânica também passaram a fabricar vagões. A companhia iniciou a produção em outubro de 2003 na fábrica instalada no distrito de Santana do Paraíso, em Ipatinga (MG). Junta-se a esse grupo de empresas o consórcio Metalmec, formado pela HZM, Engeman e Saveli.

"As empresas estão sentindo as boas oportunidades no setor ferroviário", afirmou o presidente da Abifer, Luis Cesário da Silveira. Para 2006, as expectativas continuam muito positivas. No triênio 2006-2008, a indústria espera produzir 21 mil vagões. Segundo Silveira, o sistema ferroviário fez com que houvesse a retomada da confiabilidade. Hoje, além das concessionárias, grandes exportadores compram vagões para garantir o transporte de seus produtos e manter a competitividade no mercado internacional.

Uma novidade no setor são as empresas de leasing ou aluguel de vagões - prática muito usada em mercados desenvolvidos. Segundo Silveira, já atuam neste segmento duas empresas: MRC e Ferrolease. "Agora só falta o investimento do governo federal para melhorar o sistema", afirmou.