Título: Custo da tecnologia de ponta é o maior obstáculo
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

Baixa demanda não permite a fabricação de vários equipamentos no País e importação encarece preços

O preço é a maior barreira para a introdução de sistemas de tecnologia de ponta nos automóveis brasileiros. Mas, ainda que a passos lentos, novidades estão chegando. O sedã Mégane que a Renault vai lançar em março é o primeiro carro feito no Brasil a usar, no lugar da chave, um cartão eletrônico para abrir portas e dar partida.

Normalmente, sistemas tecnológicos avançados equipam primeiro os carros mais caros. No Brasil, onde 57% das vendas são de modelos chamados de populares, a introdução de equipamentos comuns em veículos americanos, europeus e japoneses é bem mais lenta. "A tendência é de os custos da tecnologia baixarem cada vez mais, mas para isso é preciso escala", diz o vice-presidente de Engenharia de Produtos da General Motors, Pedro Manuchakian.

A baixa produção ainda não permite a produção local de diversos equipamentos, além do ABS, câmbio automático e do conjunto completo do air bag. O cartão do Mégane é fabricado pela Valeo na França. A subsidiária do Brasil tem intenção de produzir o sistema localmente, mas aguarda a adesão de outras montadoras para que a escala justifique investimentos.

Segundo a Renault, o dispositivo tem dimensões de um cartão de crédito. Ele é inserido em um leitor localizado próximo ao painel. O motorista aciona um botão e o motor funciona. O cartão tem telecomando por radiofreqüência para abrir e fechar portas, porta-malas e tampa do combustível. A segurança é garantida por um sistema de código evolutivo, que possui 1 bilhão de combinações possíveis, reduzindo risco de fraudes.

A Bosch vai pôr à disposição das montadoras sistema chamado de "start stop", que desliga o motor automaticamente após determinado período em que o carro fica parado. "Há sensível economia de combustível, por exemplo, em congestionamentos", diz Marcelo Brandão, chefe de aplicação de sistemas de injeção da empresa.

O tempo para acionamento do sistema pode ser definido pelo usuário. Quando o motorista aciona a embreagem para engatar a marcha, o carro é religado automaticamente. Testes feitos pela Bosch comprovam economia de combustível se o carro for desligado cinco segundos após estar parado e religado três segundos depois. O sistema foi desenvolvido pela matriz alemã e será adaptado ao mercado brasileiro. "Já há montadoras estudando a adoção do sistema, mas ainda não há data para lançamento", afirma Brandão.

A Delphi lançará um kit com sistema viva-voz com tecnologia sem fio Bluetooth adaptado ao MP3. O usuário poderá tocar músicas do MP3 no sistema de som do carro e, no futuro, poderá servir também como sistema de navegação. O produto foi desenvolvido pela Bosch mundial e será produzido na Argentina e exportado para o Brasil.

Nos EUA e na Europa cresce a procura por sistemas de air bags múltiplos, com bolsas na parte frontal, laterais e no teto do automóvel; faróis de infravermelho que dobram a capacidade de visão e até sistemas que chamam a atenção do motorista se ele apresentar sonolência.

Exemplos das novas tecnologias disponíveis lá fora podem ser encontradas nos importados de luxo. O utilitário esportivo Q7 que a Audi vai trazer para o Brasil em setembro terá piloto automático ligado a sistema de radar que mantém distância segura do veículo que segue à frente. Se o carro da frente pára, o mesmo ocorre com o Q7.

Se houver risco de colisão, um sistema avisa o condutor com sinais sonoros ou luz de alerta. Sensores monitoram as áreas próximas e a traseira do veículo, para avisar de alguma aproximação. O Q7, primeiro utilitário esportivo fabricado pela Audi alemã, também tem programa para auxílio na manobra de estacionamento.