Título: Freio ABS pode ser fabricado no País
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

Montadoras criam consórcio para reduzir preço do equipamento

As principais montadoras brasileiras vão criar um consórcio para a produção de sistemas de freio ABS no País. O produto, considerado item de segurança em vários países, é importado e oferecido como opcional. Por ser caro, equipa no máximo 12% dos veículos vendidos no Brasil. A proposta em discussão pela Fiat, Ford, GM, Renault e Volkswagen é convencer uma das grandes fabricantes que já está no mercado brasileiro e atua nesse segmento no exterior a nacionalizar a produção.

A contrapartida das cinco marcas é o compromisso de compra, o que elevaria a demanda e reduziria custos. O mesmo projeto deve se estender para a nacionalização de transmissões automáticas. A produção local pode reduzir os preços à metade. Em 1,6 milhão de automóveis e comerciais leves vendidos no Brasil em 2005, no máximo 190 mil eram equipados com ABS.

Chamado de freio inteligente, o ABS encarece o carro em até R$ 2 mil. Normalmente, as montadoras não vendem o sistema separado de outros opcionais. O ABS dá estabilidade ao veículo, evita travamento de rodas nas frenagens e permite dirigibilidade para tentar escapar de uma batida. O freio comum trava as rodas e o veículo segue em frente, mesmo que o motorista vire o volante.

As empresas que discutem o processo com as montadoras e que devem apresentar propostas de produção local são Bosch, TRW e Continental/Alfred Teves. As três atuam no País com sistemas normais de freio e as matrizes têm a tecnologia do ABS. A Delphi também disputa o projeto.

"Temos de encontrar uma tecnologia comum para atender todas as marcas", diz Wilson Rocha, diretor da área de novos negócios da TRW. Ele calcula que 12% dos veículos vendidos no Brasil em 2005 eram equipados com ABS. O volume total de vendas, entretanto, é pulverizado entre as montadoras, que importam o sistema individualmente, de forma direta ou por meio de suas fornecedoras de peças.

Os sistemas são fabricados por empresas da Alemanha, Estados Unidos e Japão, com diferentes especificações. Rocha calcula que, para justificar a produção, seria necessária uma demanda de 150 mil a 200 mil peças, mas com um sistema único que possa ser adaptado aos diferentes modelos de veículos. "Isso requer trabalho complexo de engenharia." O anúncio da empresa que assumirá o compromisso da produção local deve ser feito este ano.

Na opinião do vice-presidente de Engenharia de Produtos da GM, Pedro Manuchakian, a nacionalização e conseqüente redução de preços mais que dobrariam as vendas de carros com ABS. Ele prevê que a iniciativa do consórcio será estendida para o câmbio automático, produto que encarece o veículo em até R$ 2,5 mil.

Segundo Carlos Storniolo, da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), nos EUA e na Europa freios ABS e câmbio automático equipam em média 90% dos veículos. "A tecnologia também não é barata lá fora, mas o volume permite a amortização de custos."